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terça-feira, 27 de agosto de 2013

NZINGA MBANDI NGOLA, A RAÍNHA GINGA

(1587-1663)



Indomável e inteligente soberana (1624-1663) do povoGinga de Matamba e Angola e nascida em Cabassa, interior de Matamba, que altaneira e silenciosa conseguiu juntar vários povos na sua luta contra os invasores portugueses e resistiu até ao fim sem nunca ter sido capturada, tornando-se conhecida pela sua coragem e argúcia. 
Do grupo étnico Mbundu, era filha do rei dos mbundus no território Ndongo, hoje em Angola, e Matamba, Ngola Kiluanji, foi contemporânea de Zumbi dos Palmares (1655-1695), o grande herói afro-brasileiro, ambos pareceram compartilhar de um tempo e de um espaço comum de resistência: o quilombo
Enviada a Luanda pelo seu meio irmão e rei Ngola Mbandi, para negociar com os portugueses, foi recebida pelo governador geral e pediu a devolução de territórios em troca da sua conversão política ao cristianismo, recebendo o nome de D. Anna de Sousa
Depois os portugueses não respeitaram o tratado de paz, e criaram uma situação de desordem no reino de Ngola. A enérgica guerreira, diante da gravidade da situação e da hesitação de seu irmão manda envenená-lo, tomando o poder e o comando da resistência à ocupação das terras de Ngola e Matamba. Não conseguindo a paz com os portugueses em troca de seu reconhecimento como rainha de Matamba, renegou a fé católica, aliou-se aos guerreiros jagas de Oeste e fundou o modelo de resistência e de guerra que constituía o quilombo
Com sua política ardilosa, conseguiu formar uma poderosa coligação com os estados da Matamba, Ndongo, Congo, Kassanje, Dembos e Kissama, e comandou a resistência à ocupação colonial e ao tráfico de escravos no seu reino por cerca de quarenta anos, usando táticas de guerrilhas e de ataques aos fortes coloniais portugueses, incluindo pagamentos com escravos e trocas de reféns. 
Após a assinatura de um tratado (1656) com o  governador geral, que incluiu a libertação de sua irmã Cambu, então convertida como Dona Bárbara e retida em Luanda por cerca de dez anos pelos portugueses, e sua renúncia aos territórios de Ngola, uma paz relativa voltou ao reino de Matamba até a sua morte, aos 82 anos, sendo sucedida por Cambu, continuadora da memória de sua irmã, mas já estava em curso o declínio da Coligação. 
Dois anos mais tarde, o Rei do Congo empenhou todas as suas forças para retomar a Ilha de Luanda, ocupada por Correia de Sá, saindo derrotado e perdendo a independência, e no início da década seguinte o Reino do Ndongo foi submetido à Coroa Portuguesa (1771). 
A rainha quilombola de Matamba e Angola tornou-se mítica e foi uma das mulheres e heroínas africanas cuja memória desafiou tempo, dando origem a um imaginário cultural que invadiu o folclore brasileiro com o nome de Ginga, despertou o interesse dos iluministas como no romance Zingha, reine d’Angleterre. Histoire africaine (1769), do escritor francês de Toulouse, Jean-Louis Castilhon, inspirado nos seus feitos, e foi citada no livro L'Histoire de l'Afrique, da publicação Histoire Universelle (1765-1766). 
Ainda hoje é reverenciada como exemplo de heroína angolana pelos modernos movimentos nacionalistas de Angola. Sua vida tem despertado um crescente interesse dos historiadores, antropólogos e outros estudiosos do período do tráfico de escravos. Sua resistência à ocupação dos portugueses do território angolano e o conseqüente tráfico de escravos, tem sido motivo de intensos estudos para a compreensão de seu momento histórico, caracterizado por sua habilidade política e espírito de liderança desta rainha africana na defesa de sua nação. 
Também é conhecida como Jinga, Zhinga, Rainha Dona Ana e Rainha Zinga.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

HENRIQUE CARVALHO MEMÓRIAS DE UM EXPLORADOR

Em Maio de 1884, o Major Augusto Henrique Dias de Carvalho iniciou a partir de Malange (Angola) uma longa e dura expedição, cujo objectivo era atingir a Mussumba (a Corte) do império Lunda, situada na actual República Democrática do Congo. Dessa viagem, que durou cerca de quatro anos, resultou a constituição de colecções científicas no âmbito da etnografia, fauna, e flora, o registo de observações meteorológicas, um álbum fotográfico e a publicação de uma obra em oito volumes. Nesta exposição mostram-se alguns documentos, mapas, fotografias e objectos que constituíram a preparação e o resultado dessa expedição.
Exposição patrocinada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do Projecto “EXPLORA – A Colecção Henrique de Carvalho: Património Museológico e Construção de Saberes nos Finais do séc. XIX” (POCI/HEC/60706/2004 e PPCDT/HEC/60706/2004).
Catálogo
2011
Entre 1884 e 1888 o Major Henrique Dias de Carvalho empreendeu uma expedição científica, diplomática e comercial à Lunda (Angola). Durante essa viagem recolheu uma importante colecção etnográfica que ofereceu ao Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa. Neste catálogo divulgam-se os objectos Chokwe, Lunda e Kongo dessa importante colecção.

A ver na, Sociedade de Geografia de Lisboa Rua das Portas de Santo Antão, 100 - Lisboa



segunda-feira, 19 de março de 2012

BIOGRAFIA DE HENRIQUE DE CARVALHO


Oficial do Exército e explorador Africano, de seu nome completo Henrique Augusto Dias de Carvalho, era natural de Lisboa, onde nasceu a 9/6/1843.
Filho de João Augusto Dias de Carvalho e Emília de Macedo, deu entrada no Colégio Militar sob a protecção do Marechal Saldanha. 
Terminado o curso assentou praça como voluntário em Infantaria 7. Frequentou de seguida a Escola do Exército e frequentava a Escola Politécnica, quando se proporcionou a ida como Alferes para Macau, onde prestou serviço nas Obras Públicas.
Em 1873 foi nomeado para exercer um cargo civil na administração de S. Tomé, de onde se retirou em 1876 por doença. Em 1877 partiu para Moçambique, servindo aí até Setembro de 1878, data em que transitou para o serviço das Obras Públicas de Luanda, onde se manteve até Abril de 1882.
Pinheiro Chagas, ministro da Marinha e Ultramar, enviou em 1883 a Angola, uma expedição dirigida por Brito Capelo e Roberto Ivens, com a finalidade de procurar um caminho comercial entre Angola e Moçambique e de estudar as relações existentes entre a bacia do Zaire e do Zambeze.
No dia 6 de Maio de 1884, partiu de Lisboa o Major Henrique de Carvalho, encarregado de realizar uma viagem à corte de Muatiânvua, no país da Lunda. A expedição visitaria para efeitos comerciais os povos do Quimbundo, Cuango e Cassai, e levaria ao Muatiânvua uma mensagem de amizade. Também ía com o objectivo de firmar com essa potência um tratado pelo qual fosse garantida protecção a uma missão civilizadora, religiosa e comercial, dirigida por um residente português a estabelecer no seu território.
A expedição era também de carácter científico, pois tinha como missão estudar as condições de clima e navegabilidade dos rios, e impedir a influência de quaisquer exploradores estrangeiros que tivessem actuado nas regiões do além Cuango.
Em 1888 voltou a Portugal, após ter percorrido grande parte da Lunda, cujas riquezas pode conhecer. Iniciou então propaganda activa no sentido da criação do distrito da Lunda, o que veio a acontecer em 1895, e do qual foi o 1º Governador então com a patente de Coronel.
O seu secretário, que lhe foi imposto, fez desaparecer os papéis do novo Distrito e H. de Carvalho, sob o peso de graves acusações, regressou a Lisboa, preso, recolhendo ao Castelo de S. Jorge, onde durante um ano aguardou o julgamento e a condenação do seu secretário.
Passado algum tempo, seguiu para a Guiné em missão particular, com Vitor Cordon, como funcionário da Companhia de Comércio e Exploração da Guiné, da qual era capitalista o Marquês de Liveri. Tendo o Marquês pretendido dar à Companhia uma administração belga, H. de Carvalho opôs-se a tal propósito e regressou a Lisboa onde faleceu em 4 de Novembro de 1909.
Como homenagem póstuma aos serviços prestados em Angola, o alto comissário Norton de Matos, em 1923 mudou o nome de Saurimo, capital da Lunda, para Vila Henrique de Carvalho.
Nesta localidade, em 1939, foi erigido um monumento em sua memória da autoria de Raul Xavier.
Foram-lhe atribuídas as seguintes condecorações:
Comenda da Ordem de Santiago e Espada, de Cristo e Avis. Medalha de prata de Comportamento Exemplar. Medalha de Ouro por Serviços no Ultramar e as Ordens estrangeiras da Estrela Africana do Congo e da Coroa de Itália.
Como resultado das suas viagens, publicou as seguintes obras:

CARVALHO, Henrique A. D. A Lunda ou os estados do Muatiânvua. Domínios da soberania de Portugal. Lisboa: Adolpho, Modesto & Cia., 1890.

-----------------. Expedição Portuguesa ao Muatiânvua. Ethnographia e História
Tradicional dos Povos da Lunda. Lisboa: Imprensa Nacional, 1890.

-----------------. Expedição Portuguesa ao Muatiânvua. Méthodo prático para fallar a língua da Lunda contendo narrações históricas dos diversos povos. Lisboa: Imprensa Nacional, 1890.

-----------------. Expedição Portuguesa ao Muatiânvua. Meteorologia, Climatologia e Colonização: estudos sobre a região percorrida pela expedição comparados com os dos benemeritos exploradores Capello e Ivens e de outros observadores nacionaes e estrangeiros: modo practico de fazer colonisar com vantagem as terras de Angola.
Lisboa: Typ. do jornal "As Colonias portuguezas",1892.

-----------------. Expedição Portuguesa ao Muatiânvua 1884-1888: Descripção da
Viagem à Mussumba do Muatiânvua. 
Lisboa: Imprensa Nacional & Typographia do Jornal As Colônias Portuguesas, vol. I: de Loanda ao Cuango, 1890; vol. II: do Cuango ao Chicapa, 1892; vol. III: do Chicapa ao Luembe, 1893 e vol. IV: doLuembe ao Calanhi e regresso a Lisboa, 1894.

A respeito da viagem à Lunda ainda foi publicada a obra “ Os climas e as produções agrícolas das terras de Malange à Lunda “ esta da autoria de Sezinando Marques.

Partilhado por Pedro Dinis

quarta-feira, 7 de março de 2012

CRIAÇÃO DO DISTRITO DA LUNDA

A Conferência de Berlim realizada em 1885, para além de determinar a partilha do continente Africano entre as principais potências colonizadoras da época, nomeadamente Inglaterra, Alemanha, Bélgica, EUA e França, constituiu o ponto de partida da grande aventura da burguesia europeia visando a exploração da Africa.

Mapa de 1889
 A partir do século XVIII, multiplicaram-se os interesses europeus em Angola motivados pelo rápido desenvolvimento do capitalismo industrializado e pelas independências das Américas, afim de criarem zonas de influência para a obtenção de matérias-primas e escoamento de produtos. Assim, o império Lunda situado no coração de Africa Central (entre os paralelos 06º 30º e 11º 30º´ à sul e os meridianos 17º 30º`e 22º 30` à este), recebe várias expedições destacando-se a de David Livingston, enviado pela London Missionary Society em 1840, a Verney Lovott Camaron, do alemão Otto Schuth em 1887, de Max Bucher em 1879 e a mais célebre dos Portugueses ao Mussumba de Muachianvua, comandada pelo Major Henrique Augusto Dias de Carvalho, entre 1884 à 1887, partindo de Malange, já colónia de Angola.

Comissão de delimitação da Lunda
Henrique Augusto Dias de Carvalho, assinou ao longo da sua expedição vários tratados de protectorados com chefes Lunda-Tchokwes, sendo os mais importantes com Xa-Mutepa, Caungula, Muachissengue e Muachianva Mucanza Samaliamba, este último na mussumba a 18 de Janeiro de 1887.
No âmbito da organização e direcção das operações militares de ocupação colonial portuguesa, foi criado através do Decreto de 13 de Julho de 1895, o Distrito da Lunda, tendo Capenda-Camulemba como sede capital e em 1905, 1907 e 1912, são fundados sucessivamente os postos de Caungula, Camaxilo e Mona-Quimbundo.
Em consequência das reformas administrativas da potência colonizadora (Portugal), a Lunda toma em 1917 o carácter de Distrito Militar com sede em Saurimo e a 20 de Abril de 1929, Saurimo recebe a denominação de Vila Henrique de Carvalho, em homenagem ao chefe da expedição portuguesa, também primeiro Governador do novo Distrito. Em 28 de Maio de 1956, a Vila Henrique de Carvalho é elevada à categoria de cidade através do Diploma Legislativo nr. 2757. Dois anos depois da proclamação da independência nacional, a Lunda foi por força do Decreto nr. 48/78, do Conselho da Revolução, dividida em Lundas-Norte e Sul.


Monumento a Henrique de Carvalho
Um dos maiores acontecimentos históricos ocorridos foi a guerra entre os três irmãos Txinguiri, Txinhama e a irmã, a rainha Lueji, por esta ter casado com Txipinda Ilunga, um caçador de etnia inferior, quebrando assim a lei do império. Outro acontecimento de realce foi a grande resistência deste povo, contra a penetração colonial portuguesa.

Partilhado por Pedro DinisPIL

sexta-feira, 2 de março de 2012

EXPEDIÇÃO À REGIÃO DA LUNDA, NO LESTE DE ANGOLA ENTRE 1844 E 1888.

Imagem da conferência do Cor.João Augusto Noronha Dias de Carvalho, em 12/9/1971, aquando da sua visita a Henrique de Carvalho 

( Biografia, na minha opinião, "operacional" de H. de Carvalho baseado no texto de uma conferência que em 1971, o Cor. João Augusto Noronha Dias de Carvalho, filho de H. de Carvalho deu no Liceu da cidade ).
Em finais de Oitocentos, face à investida das restantes potências Europeias, Portugal vê ameaçados os seus territórios Africanos, cuja ocupação se limitava à costa e que assentava tradicionalmente na invocação dos “direitos históricos”.
Sem meios militares ou económicos que lhe permitiam ombrear com os restantes competidores, desperta o Estado português a consciência do “apertado cerco que nos estão pondo as principais nações da Europa”.
Neste apertado cerco conjugam-se as expedições Alemãs e Belgas que se dirigiram para a Lunda na segunda metade do séc. XIX.
Alarmado pelo curso dos acontecimentos, o governo Português empenha-se a partir de 1884 na construção de um caminho-de-ferro que ligasse Luanda – Ambaca, um conhecido entreposto comercial entre o interior de Angola e a costa. Procurava-se sobretudo estabelecer laços comerciais directos com o Império Lunda, fonte tradicional de matérias-primas (cera, marfim, borracha), e que até então se encontrava isolado, alvo de um bloqueio exercido por parte dos Mbangalas. Estabelecidos na região de Cassanje, estes impediam um contacto directo com os Europeus, ao assumirem-se como intermediários comerciais entre os sertanejos e o território de MUATIÂNVUA.

A Expedição:
É precisamente neste contexto que surge, em 1884, a viagem do militar Henrique de Carvalho à Lunda.
Relativamente ao Muatiânvua, pedia-se que este fosse persuadido a celebrar um tratado de amizade e comércio com Portugal.
A expedição partiu do entreposto comercial angolano de Malanje em Julho de 1884. Era chefiada por Henrique de Carvalho, militar com vasta experiência colonial, e tinha como subchefe o Major Agostinho Sisnando Marques, farmacêutico e ex-director do Observatório Metereológico de S. Tomé. Seguia também como ajudante o Tenente Manuel Sertório de Almeida Aguiar, bem como os indispensáveis carregadores recrutados localmente e alguns ambaquistas, que operavam sobretudo como guias e intérpretes.
O itinerário foi delineado em Malanje pelos irmãos Custódio e Saturnino de Sousa Machado, comerciantes sertanejos de longa data e por isso conhecedores dos caminhos interiores.
Foi sugerido um “caminho novo pelo Nordeste que, partindo de Malanje, ia atingir o rio Cuango na zona de confluência com o rio Lui, seguindo daí para o Cassai”. Depois, seguiria para Sul, em direcção à Mussumba.
A expedição avançou dividida em duas secções, dirigidas respectivamente pelo chefe e pelo subchefe. Uma das secções seguia à frente, fundava uma “estação civilizadora”, e aí permanecia algum tempo, estabelecendo relações de confiança com os locais. Estações essas em que Henrique de Carvalho terá realizado parte das suas observações e recolhas etnográficas.
Quando a primeira secção partia, chegava a segunda para dar continuidade ao trabalho.
À medida que avança em direcção à Mussumba, Henrique de Carvalho apercebe-se de que o Império Lunda atravessa uma fase conturbada. Os entraves postos a partir de 1850 pelo Estado português ao tráfico de escravos em Angola foram um rude golpe para a economia Lunda, que dependia grandemente dessa actividade. Dividido por lutas de poder internas, o Estado Lunda via o seu território consideravelmente reduzido pela expansão para Norte dos povos Chokwe.
Passados cerca de dois anos, em Janeiro de 1887, a expedição encontra-se finalmente em Mussumba. No dia 18 desse mês “celebra-se um tratado pelo qual o Muatiânvua e a sua corte reconheciam a soberania de Portugal e se comprometiam a não aceitar nas suas terras outra bandeira”.
Henrique Carvalho e o Muantavua Sá Madiamba
Este sucesso não foi contudo, duradouro. Cinco dias após a assinatura do tratado, um grande fogo destruiu grande parte da Mussumba, levando à debandada de milhares de pessoas, incluindo a Corte Lunda. Henrique de Carvalho apercebe-se de que só lhe resta partir. Esperava-o uma longa viagem de regresso, em que a expedição tem de contornar diplomaticamente a agressividade dos Chokwe, e a cíclica falta de provisões e medicamentos. No decurso da viagem, iam chegando notícias inquietantes de Malanje: no contexto da Conferência de Berlim, fora criado o Estado Independente do Congo (1884), o que significa a perda da região Angolana do Lubuco para a Bélgica. 

Henrique de Carvalho e o Muatiânvula 
Se os objectivos políticos e comerciais da expedição não tinham sido alcançados, ficara assegurada uma recolha de carácter etnográfico que testemunha ainda hoje uma visão muito particular sobre a Lunda dos finais do séc. XIX.

Dispersos Históricos: 
- Carvalho na sua primeira estada em Angola (1878/1882) foi responsável pelas obras públicas em Luanda
- Em 1884 e, em Malanje, Henrique Dias de Carvalho preparava a sua expedição.
- Carvalho contratou doze carregadores em 9 de Junho de 1884 em Luanda, para a sua grande expedição à Lunda, dez dos quais o acompanharam até ao Calanhi e regressaram com ele.
Lundas de visita à expedição

- Henrique de Carvalho encontrou algumas caravanas Mbangalas nos domínios do Caungula Muteba, junto ao Lóvua, em cujas proximidades permaneceu três meses com a sua expedição, em finais do ano de 1885.
- Numa dessas caravanas participava também o chefe (Ambaza) QUINGURI, da margem direita do Cuango, aí chegado em meados de Dezembro de 1885, cuja residência se situava a um dia de viagem da estação comercial de Cassanje, junto ao Quinguixi, um afluente do Cuango. Quinguri, permaneceu com Carvalho durante vários meses. Alegava ser um descendente do primeiro Jaga (título dos governantes Mbangalas) e, portanto, de Lueji, a mãe do primeiro Mwant Yav do Estado Lunda e era um pretendente à sucessão dos Jagas no Cassanje.
- Em Outubro de 1887, Manuel Correia da Rocha, conhecido por Calucâno, chegou a Malanje com Carvalho, tendo-se instalado com a sua gente algures nas imediações.
- Henrique de Carvalho, explorador português, foi contemporâneo de outros exploradores alemães – Paul Pogge (1875/1876) e Max Buchner (1879/1880).
Canoa no rio Txicapa
- António Bezerra acompanhou a grande expedição de Henrique de Carvalho à Lunda como “primeiro intérprete” nos anos de 1884/1888.
- Como António Bezerra conhecia como ninguém as regiões situadas a Leste do Cuango, pôde prestar a Carvalho informações preciosas sobre as rotas a seguir ou a evitar, as diversas populações, suas opiniões, sua história, suas relações comerciais e seus costumes. Agostinho Alexandre Bezerra, participou na expedição de quatro anos de Henrique de Carvalho à Lunda (1884/1888) como segundo intérprete.
- Em 1896, quando Carvalho voltou à região dos Mbangalas como Governador da Província Lunda, Quinguri já tinha falecido.

Colaboração de:
Pedro Dinis

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O REINO DA LUNDA


History of the United Kingdom of  Lunda Tchockwe
   

Lunda and Luba States—among the larger of the Bantu states in the 15th–19th century,
shown with neighbouring Kazembe and some of the major trade routes. In Encyclopædia Britannica, Inc.

 

O REINO DA LUNDA (Aruwund)

O Reino da Lunda (1050-1887), também conhecido como Império Lunda, foi uma Confederação africana pré-colonial de estados, desde o Katanga, desde o Rio Luio até Liambeji ou Zambeze e o noroeste da Zâmbia. O seu estado central ficava no actual Katanga ou a capital Imperial a famosa MUSSUMBA.
O Reino da Lunda ficou dividido no século XIX, quando ocorreu as guerras intestinais na Corte da Família Real do Império entre o século XIV, XV ou XVI e por causa do tabú da Soberana Lueji. O Reino dividiu-se em trés partes, sendo;

- Reino Lunda Luba
- Reino Lunda Ndembo
- Reino Lunda Tchokwe

De acordo com os EUROPEOS, os Tchokwes estabeleceram o seu próprio reino com a sua língua e costumes, porém a verdade dos factos ocorridos, esta sendo escrito actualmente num trabalho investigativo, que os leitores terão em vossas mãos nos proximos tempos. Os Chefes Lundas e o povo continuaram a viver na região Lunda porém diminuidos de poder. 
O Rumo da História é diferente, da que conhecemos nas Universidades da Europa ou mesmo de alguns países de Africa.
No início da era colonial (1884 - Conferência de Berlim) o coração da terra Lunda foi dividido entre a Provincia de Angola portuguesa, o Estado Livre do Congo do rei Leopoldo II da Bélgica e o noroeste da Britânica Rodésia, que viriam a tornar-se em Angola, R.C.Congo e Zâmbia, respectivamente.


Mwene Dumba Watembo, Rei dos Lunda Tchokwes 1874
As Dinastias do Reino Lunda (Aruwund)
Essas dinastias tem sua origem a partir do coração do próprio povo Lunda pré historico, o povo MBUNGO, e o primeiro fundador ou organizador politico do ESTADO LUNDA, Yala Mako, ou seja Yala Yamuaka, significa que Unhas de longos anos, titulo do poder politico agarrado a longos anos.
Yala Yamuaka, segundo a tradição oral Lundês, era irmão mais velho de Kunde, casado com a Konde (Feijão e banana)nomes originárias da língua Lunda, aqui escritos erradamente por Europeos que não sabiam pronúnciar as línguas Africanas, e este casal nasceu 3 filhos e uma filha de nomes; TCHINGULI, TCHINHAMA, NDODJI (Ndoji) e a LUEJI (Rweej ou Nawej). De acordo com a nossa tradição, o título de poder político é transmitido através de LUCANO, uma pulseira de tendão ou MUJIPA seco, de um parente morto para que o futuro Chefe tenha coragem de governar.
Reza a mesma história, Yala Yamuaka tem um outro irmão Thumba Kalunga, esse Thumba é o paí de MUACANHICA, MUAMBUMBA, MUAKAHIA, MUANDUMBA e TEMBO.

Num dia desse, o TCHINGULI e o TCHINHAMA, foram beber a famosa bebida hidromel, ao regresso a casa espancaram o paí deles, o velho KUNDE, criando-lhe infecções internas e ele velho, ao se sentir moribundo, zangou-se com os dois filhos e, chamou a “cassula” a ultima, a LUEJI (RWEEJ) e vestiu-a, o LUCANO, deu lhe o poder de governar o Estado do Reino da Lunda.
A pós a morte do velho KUNDE, a LUEJI ou RWEEJ torna-se uma brilhante chefe do Estado do Reino da Lunda, a Rainha de todos os filhos do Estado, e ela vivia com uma serie de governandas, entre elas a sua prima KAMONGA LUANZE, irmã da TEMBO, que é a mãe do Ndumba Tembo ou título politico de Dumba Watembo, filho menor de Tembo LUCOQUESSA irmã menor da NACAMBAMBA, irmão de YALA YAMUAKA e KUNDE.
Ninguém sabe ao certo em que século tudo isso aconteceu, são factos pré históricos e pré coloniais ou seja antes da chegada dos EUROPEOS.
A Corte Real da Rainha LUEJI ou RWEEJ, era também composta por varias outras entidades do seu tempo, entre eles; Thinguli, Tchinhama, Ndoji e toda a família real Lundês. Foi um Reino economicamente muito forte, com uma agricultura muito bem estruturada, trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de escravos, marfim e artesanato.
É no auge da sua governação que todo o mal acontece ao Estado do Reino Lunda, a formação do Império, e a decadência do mesmo e praticamente o desmoronamento do grande pontentado de Africa.
Certo dia, os soldados trouxeram-na um ladrão da tribo Tchiluba, chamado ILUNGA, e grande caçador que foi apanhado quando roubava a famosa bebida hidromel, que era parte servida na Corte da Rainha LUEJI. Uma reunião da Corte foi convocada de emergência para se decidir, da sorte do ladrão. A maior parte dos membros da Corte decidiram matar o ladrão, porém a Rainha LUEJI na sua qualidade de Chefe, e porque engraçou-se no seu coração com o ladrão, pediu aos membros da Corte, para que não o matassem, e que fosse viver no seu quintal como escravo e mão de obra na construção de residências. Pedido aceite, ILUNGA passou a viver no quintal da LUEJI como seu escravo. Durante a sua estada no quintal da Rainha, ILUNGA passa a ter relações intimas com a prima e a própria Rainha Lueji.
A Lueji como já tinha a pretensão de ficar com ele como seu marido, surpreendeu a Corte, convocando uma Assembleia Estadual e apresentou o ladrão como seu esposo.
É este facto que constitui uma grande violação do tabú do povo ARUWUND, que constituia em os membros da corte ou simplesmente “MUANANGANAS” que significa também “proprietários da terra” ou “Mwaantaangaand” nunca contrairem o matrimonio com um VASSALO ou TCHILOLO. Portanto, como é uma violação de um PACTO SAGRADO, os membros da Corte revoltaram contra a Rainha Lueji.
O desmoronamento da corte da Rainha Lueji, tem lugar com a saida massiva de grandes nomes de personalidades da família Real ARUWUND, Tchinguli, Tchinhama, Ndodji, Thumba Kalunga (Muacanhica, Muambumba, Muakahia, Muandumba e Tembo) e um punhado de populações inteiras descontentes com a violação do pacto sagrado.
As etapas importantes do Reino da Lunda, desde YALA YAMUAKA até MUAAT YAAV, e o nascimento da palavra “AIOKU KU TCHINGULI” o termo AIOKU que a LUEJI usou pretendia explicar aqueles que querem ir, podem ir, etimologia da língua tchokwe e, é aqui o nascimento de uma parte de um grupo do povo aruwund, que hoje conhecemos como povo TCHOKWE(deixem ir ao Tchinguli).
Rei Mwene Kapenda Kamulemba
Este Soberano Lunda Tchokwe, Celebrou o 1.º Tratado de Protectorado com Portugal 1885

Mwaantaangaand do Reino da Lunda

• Nkonda Matit (Séculos XI ou XVI) não há prcisão.

• Cibind Yirung ( Governou entre 1600 - 1630)(ILUNGA)
• Yaav I um Yirung (Governou entre 1630 - 1660) 
• Yaav II um Nawej (Governou entre 1660 - 1690)

Mwene Dumba Watembo, Rei dos Lunda Tchokwes, 1874

Rei Mwene Kapenda Kamulemba, 1885
Do Mwata Jamwo Kauma, Rei da Lunda, 1928

No proximo texto falaremos de TSHIBINDA ILUNGA (Cibind Yirung), do MUAAT YAAV e do nascimento do TCHOKWE (Aioku) e as dinastias das ambas as partes, até a fundação em 1956 do ATCAR Movimento do resgate da Independência do REINO DA LUNDA, este movimento também conhecido por Associação dos Tchokwes de Angola, Congo e Rodêsia Britânica, fundada por Abrás Muhunga Muatchissengue Watembo e Smart Tchata, a partir do Congo Bélgica.
Dom Mwata Jamwo Kauma Rei da Lunda, 1928


O Reino Lunda, que no Séc.XVII chegou a ser um dos grandes potentados de Africa, foi fundado no início do Séc.XVI, por Mwatiânvua e sua mulher Lukocheka.
Segundo a tradição lunda, Mwatiânvua era descendente de Lweji, filha de Kondo grande chefe lunda, que era casada com o grande caçador Luba Tyibinda Ilunga. Depois da morte de sua mãe, Muatiânvua, submeteu várias tribos lundas e formou um Reino, nos finais do séc. XVI.
Embora fosse um Reino só e coeso em todos os aspetos e sentidos, Mwatiâmvua governava a metade Norte e a Rainha Lukocheka reinava na metade Sul. Tinham poderes iguais, e as decisões que fossem concernentes ao Reino como um todo, eram baseadas no consenso dos dois, ajudados pelo conselho de séculos (velhos).

É um Reino economicamente muito forte, com agricultura muito bem estruturada, com milho, massango e massambala, trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de escravos, marfim e tecidos.
No Séc. XVIII, uma parte do povo decidiu migrar para a região do atual Moxico, dando origem ao povo Tchokwé (Kiôco). Foi o primeiro sinal de fragmentação do Reino Lunda, que talvez fruto do crescimento econômico, ou das facilidades de vida, dadas pela exuberância do solo, foram-se entregando mais aos prazeres da vida do que aos interesses do Reino.
Depois de lutas com os Tchokwé até ao fim do século XIX, os Tchokwé sublevaram-se definitivamente, forçando as barreiras de governantes lunda que os cercavam e expandiram-se rapidamente para norte e sul.

Lundas e Tchokwes
Há muitos séculos atrás os Lundas e tchokwes tinham sido um povo só. Saíram do mesmo núcleo, a grande diferença é que os Lunda ficam no seu território desde sempre, os tchocwe transformam-se num grupo de extrema mobilidade que a partir do século XVI percorre todo o país. São essencialmente caçadores e comerciantes saindo, por isso, em busca de marfim borracha, etc. Essa extrema mobilidade não lhes permite desenvolver estruturas políticas tão pesadas como era a hierarquia da Mussumba, por isso fazem aquilo que se chama a diáspora Tchokue, inflectem para o sul, dividem os Nganguela ao meio. Angola tem Tchokwe em todo o território. No final do século XIX os Tchokwe regressam ao seu território de origem, tomam, militarmente, o poder dos Lunda e absorveram as suas instituições.

Em 1885, ocorre a primeira invasão Tchokwé, que munidos de armas capturaram seis mil lundas, após Musumba, a capital do império, ter sido saqueada. Dois anos depois, em Janeiro de 1887, ocorre uma nova invasão Tchokwé. Musumba foi incendiada e os lunda ficaram sob domínio Tchokwé, até ao final do século XIX.
Os Tchokwé estabeleceram então o seu próprio reino com a sua língua e costumes. Os chefes lundas e o povo continuaram a viver na região lunda porém diminuidos de poder.
A expansão dos Tchokwé levou-os para além das fronteiras de Angola, encontrando-se grandes núcleos na República Democrática do Congo e na Zâmbia.
Dominação Européia
No início da era colonial (1884) o coração da terra lunda foi dividido entre a Angola portuguesa, o Estado Livre do Congo do rei Leopoldo II da Bélgica e o noroeste da britânica Rodésia, que viriam a tornar-se em Angola, R.C.Congo e Zâmbia, respectivamente.
Em 1908, o Estado Livre do Congo deixa de ser propriedade da Coroa e torna-se colónia da Bélgica, sob o nome de Congo Belga, permanecendo assim por quase 60 anos. Por sua vez, o Império Lunda – inicialmente repartido entre o reino Portugal e o Estado Livre do Congo –, encontrava-se, desde meados do século XIX, em decadência, já que “o poder do Mwant Yaav, em larga medida apoiado no comércio de escravos, acabou por ser afetado pela abolição deste tráfico”.

No início do século XX, após a expulsão dos Tchokwé que acabaram sendo vencidos pelas forças coloniais portuguesas, por volta de 1920, o Império Lunda já havia perdido alguns territórios e muito do seu poderio inicial. Diz-nos Manuela Palmeirim que “é decorrente deste contexto histórico que muitos grupos distintos a nível linguístico se encontram frequentemente designados na literatura como ‘povos lunda’, hoje grupos inteiramente autónomos mas que, outrora, partilharam uma unidade política comum sob a autoridade do Mwant Yaav e que reconhecem esta ligação através de um corpus de tradições orais. Podem ser referidos como “lunda” – para além do próprio grupo a partir do qual o império se originou e que ficariam conhecidos na literatura por ‘lunda do Mwant Yaav’ (os aruwund) – os ndembu (ou lunda-ndembu), os yaka, os luvale (também designados por lunda-baluvale ou lwena), os imbangala (reino de Kasanje), as gentes do Luapula sob o domínio do rei Kazembe (…)”.
As variantes linguísticas
Os Lunda-Tchokwé são o grupo etnolinguístico predominante do nordeste de Angola, tendo-se estabelecido, em finais do século XIX, nas províncias administrativas da Lunda-Norte, Lunda-Sul e Moxico, mas estendendo-se, posteriormente, até ao interior da província da Huíla.

Segundo Vatomene Kukanda, este grupo apresenta poucas variantes linguísticas. Na província da Lunda-Norte predominam o lunda, o cokwe (kioku), o mataba, o kakongo ou badimba e o mai. Na província da Lunda-Sul: o Tchokwé (kioku). Em uma parte da província do Moxico: o lunda-lua-shinde, o lunda, o ndembo e o Tchokwé (kioku). Noutra parte das províncias do Bié e do Kuando-Kubango: o cokwe (kioku).
O artesanato Lunda e os desenhos na areia
Apresentavam, em 1960, uma população de 360 mil pessoas, que se espalhavam por milhares de quilómetros quadrados, não apresentando, por este fato, uma população densa. Por tradição, são caçadores savânicos, embora hoje vivam da agricultura.


Máscara Lunda

São também grandes artistas a trabalhar em ferro ou madeira. José Redinha revela-nos que os Tchokwé constituem a parte que mais se destaca neste grupo etnolinguístico e que a designação Lunda-Tchokwé é, a bem dizer, de ordem histórica, porque, na realidade, quem predomina são os Tchokwé.


Escultura Lunda

Para além de hábeis em várias espécies de artesanato, os Tchokwé (kioku) ou Quiocos (na forma aporteguesada), estando na aldeia ou no acampamento de caça, sentados à volta da fogueira ou à sombra de árvores frondosas, costumam passar o tempo a conversar e vão ilustrando os temas dessas conversas com desenhos na areia. Muitos desses desenhos, de acordo com Paulus Gerdes, pertencem a uma velha tradição. Referem-se a provérbios, fábulas, jogos, animais, etc. Acabam por desempenhar um papel importante na transmissão do conhecimento e da sabedoria de uma geração para a seguinte.


Partilhado por Pedro DinisPIL


domingo, 11 de abril de 2010

ÁFRICA NA MONARQUIA

A Expedição AGUIAR

Mais de um século passou em Outubro de 2007 sobre a ocupação do Cuamato, primeira acção em força para o domínio efectivo do Sul de Angola. E como se torna civicamente salutar e fecundo robustecer o sentimento de orgulho nacional com a evocação das melhores glórias pátrias, nunca é de mais rememorar-se de tempos a tempos, mesmo em breves e concisos resumos, o que foi essa árdua empresa das Campanhas de ocupação da imensa terra angolana.Vinha de longe, como se sabe, a lenta penetração portuguesa nas ignotas paragens do Sul, de que até aos meados do século XIX apenas se sabia da existência dum rio Cunene e duma vaga região chamada Humbe. A própria costa angolana, ao Sul de Benguela, ainda em 1840 era mal conhecida. Exploradas desde então por missões navais as baías de Moçâmedes e dos Tigres, o Porto Pinda e na extrema fronteiriça com a Damaralândia a foz do Cunene, iniciava-se anos depois, em 1856, a penetração pelo deserto até ao planalto do Huíla. Os Gambos e o Humbe, na margem do Cunene, eram ocupados em 1859.A soberania portuguesa ia já até às fronteiras das grandes populações cuamatas e cuanhamas. E desde logo se punha aos Governos da Metrópole a chamada «questão do Sul e Angola», suscitada pela feroz resistência que à soberania portuguesa ofereciam essas belicosas tribos do Ovampo de que as mais temíveis em território nacional eram os Cuanhamas, os Cuamatos e mesmo os Evales.
As resoluções cominatórias(sanções ameaçadores) do famoso Congresso de Berlim (1885) coagiram por essa época o Governo português a encarar seriamente o problema de ocupação do Sul de Angola para garantir os seus proclamados direitos históricos de prioridade.E de facto, logo em 1885 e 1886, a brilhante actuação do Capitão Artur de Paiva, coadjuvada pela acção dum velho colono da Huíla, Pedro Chaves, instalava o domínio português naquelas remotas paragens com ocupação de Cassinga, do Humbe e do Cubango.Em 1890 a ocupação do Bié e os sucessivos rechaçamentos das invasões hotentotes por Quintino Rogado, induziram Artur de Paiva a reclamar insistentemente da Metrópole a ocupação militar do Cuanhama, principal foco de resistência ao domínio português, para o que chegou a apresentar um plano de campanha. Em verdade era ali endémica a rebelião dos povos indígenas. Permanente estado de guerra intertribal com as razias periódicas, roubos de gago, incêndios de libatas pelos povos do Mulondo, dos Gambos, dos Quipungos, do Jau e da Chela, tornavam o nosso domínio ao Sul de Benguela inteiramente precário, quase irrisório. Em 91 o Humbe revoltava-se.
Os Cuamatos inutilizavam todas as tentativas do major Padrel para se restabelecer ali a soberania. Por seu turno os Cuanhamas prosseguiam impunemente as suas insolentes razias aos pacíficos povos limítrofes. Era total a insegurança e tornavam-se alarmantes os vexames infligidos naquelas paragens à bandeira nacional.Em vão instavam com a Metrópole os sucessivos governadores da Província pela urgente ocupação e sujeição de Cuanhamas e Cuamatos.
A Metrópole, porém, assoberbada ainda com a outra Costa, não podia, por carência financeira, acudir ao mesmo tempo aos problemas urgentes do Sul de Angola.Em 1898 a situação subitamente agravara-se, com a nova revolta da gente do Humbe e o massacre do pelotão de dragões do Conde de Almoster. Seguros da impunidade, Cuanhamas e Cuamatos redobravam de insolência e audácia nas suas razias assoladoras.Urgia uma acção enérgica, para impor uma autoridade efectiva em territórios tão cobiçados pelos poderosos vizinhos alemães da Damaralândia.

Em 1902 o Governo da Metrópole, já mais desafogado dos problemas de Moçambique, decidiu-se enfim a operar com uma expedição em força no Sul de Angola, para o que incumbiu o novo governador de Moçâmedes, capitão de engenharia João M. de Aguiar, de fazer um reconhecimento dos territórios e elaborar um plano de campanha. E em 1904 deu-se começo à campanha, que se desenvolveu em breves dias de Setembro.Era o primeiro passo decisivo para a ocupação sistemática do Sul de Angola; e embora tenha redundado num total desastre, bem merece a memória dos oficiais e soldados, que nela perderam honrosamente a vida, a evocação dessas horas trágicas e das circunstâncias em que tombaram, combatendo como soldados, e como soldados dando a sua vida e o seu sangue pelo engrandecimento da Pátria.Era então o Humbe, à beira do Cunene, na margem direita, o ponto mais avançado do domínio português.Ali se concentrou na primeira semana de Setembro a coluna expedicionária, num total de 2000 homens, europeus e indígenas, de todas as armas, sob comando do próprio governador do Distrito, capitão de engenharia João M. de Aguiar.A coluna tinha um objectivo – a tomada da Ngiva, sede do sobado do Cuanhama, depois de submetido o Cuamato, passagem forçada para a Ngiva, mais a Leste.Iniciado, em 19, o avanço até Vau de Pembe, pela picada que o capitão Gomes da Costa, comandante dos auxiliares, fizera entretanto abrir, as tropas da coluna chegaram ao Cunene às 9 da manhãLogo que as forças começaram a travessia do rio, para a margem esquerda, larguíssimo nessa região, ouviu-se o primeiro tiroteio do gentio, e Gomes da Costa realizava com os seus auxiliares um reconhecimento ofensivo que dizimava e repelia as avançadas dos Cumatos, entricheirados numa eminência paralela ao rio.

PRIMEIRA CAMPANHA DO CUAMATO
A travessia do Cunene pelo grosso da coluna continuava demoradamente, dificultada, pelos Cuamatos que ao cair da tarde voltaram a fazer intenso tiroteio.Só ao alvorecer da manhã seguinte o resto da coluina pôde acabar de transpor o rio; e logo às 8 horas o inimigo surgiu à orla dum bosque a fuzilar, invisível, as nossas tropas acampadas. Repelido ainda pelos auxiliares de Gomes da Costa, voltava pouco depois, a surgir no outro flanco, donde foi novamente rechaçado. Era um fatigante esforço. No dia 21 repetiam-se os ataques do gentio, e todo o dia o quadrado português esteve debaixo de fogo do inimigo.
Os Cuamatos faziam fogo, embuscados no denso arvoredo e esquivando-se sempre a combates corpo-a-corpo. Os alarmes sucediam-se, enervando as tropas.Em 22, o comandante da coluna ordenou para o dia seguinte uma sortida em força. Sob o comando de Gomes da Costa, para desafrontar o bivaque e preparar e preparar uma abertura no mato alto, por onde a coluna pudesse internar-se em território inimigo.
Na manhã de 23, ás 7 horas, saía o forte destacamento de um pelotão a cavalo, outro pelotão de infantaria europeia e mais quatro pelotões indígenas com uma peça de marinha. Ia em coluna dupla, que logo foi disposta em linhas de atiradores, dada a natureza do terreno, muito arborizado e coberto de mato alto. Reiterados ataques do gentio m massa, repelidos todos, dificultavam cada vez mais a progressão, que a certa altura teve de ser suspensa, para não se afastar excessivamente
o destacamento do grosso da coluna, correndo o risco de envolvimento total e duma inevitável chacina.


Ao cabo de seis horas de penosa marcha, o destacamento Gomes da Costa descaía sobre a margem do rio e recolhia ao quadrado. Durante dois dias deixou o gentio de incomodar a coluna. E em vista da aparente acalmia, o comando da coluna resolveu proceder a novo reconhecimento ofensivo, mais forte, para abrir caminho.Esse foi o grande erro do comando, por enfraquecer a coluna e se arriscar a ser batido em fracções separadas, em vez de a empregar em força, com prudência e decisão, numa acção fulminante em que pudesse servir-se de todo o seu potencial de fogo, do arrojo e valor das suas tropas e das circunstâncias que se lhe oferecessem favoráveis.
Um destacamento de cerca de 500 soldados europeus e indígenas, com duas peças de marinha, sob o comando do capitão de artilharia Pinto de Almeida, saiu do quadrado às 6 da manhã de 25. A pouco menos de uma légua de margem de rio, foi envolvido por forças esmagadoramente superiores, milhares de negros bem armados, que tornavam impossível a retirada. Tiveram de lutar as nossas tropas desesperadamente na proporção de 1 para 20. A breve trecho as munições esgotaram-se; as baixas tornavam-se alarmantes. Cavalaria e os auxiliares carregavam em furiosos mas impotentes arrancos. Era o «salve-se quem puder», o desatre completo

No quadrado à beira do rio, ouvia-se distintamento o fragor do combate, na convicção de se tratar do desenvolvimento regular duma acção ofensiva. Só quase no final, por um clarim que apareceu no quadrado ao galope a dizer o que se passava, se começou a entrever o desastre. Foi então resolvida flagelar com fogo de artilharia a fúria do gentio, para cobrir uma retirada possível.
Mas o tiro, mal regulado, ia produzir maior confusão por atingir os restos do destacamento, que se tentava reagrupar para retirar debaixo de fogo. Era o golpe de mesericórdia, infligido pelas nossas próprias armas.O combate durara pouco mais de uma hora e nele baquearam o próprio comandante do destacamento e mais 15 oficiais, 110 praças europeias e 150 indígenas. Apenas 3 oficiais sobreviveram ao massacre, e os estropiados que, na debandada puderam recolher ao quadrado traziam 26 europeus e 24 soldados indígenas feridos.Assim reduzida e profundamente abalada no seu moral, a coluna não podia cumprir a sua missão nem sustentar-se sequer nas suas posições.


Ao meio-dia de 25 foi resolvido recolher ao Humbe, na outra margem, donde entretanto fora mandado vir uma companhia negra de landins, que ali ficara em reserva e apoio. Da cobertura da retirada foi encarregado o capitão Gomes da Costa, sob cuja serenidade imperturbável se começou a passagem do rio, que durou até ao cair da tarde, e fez-se a marcha de duas léguas do vau do Pembe até ao Humbe.
Cerca de 270 portugueses, reinóis e indígenas, deixaram nas profundezas do mato hostil os seus corpos mutilados e as suas ossadas, a balizarem com o seu heróico sacrifício os caminhos que, mais tarde, outras tropas portuguesas deveriam palmilhar, para vingarem, com a honra da bandeira, o generoso sangue vertido

LÍNGUAS DE ANGOLA

A-Raiz Bantu ( de 1 a 9)
  • 1-Kicongo
  • 2-Kinbundo
  • 3-Luna-Tchokué
  • 4-Umbundo
  • 5-Ganguela
  • 6-Nhaheca-Humbe
  • 7-Ambó
  • 8-Herero
  • 9-Xindonga
B- Raiz não Bantu

10-Hotentotes- Bosquímanos Mukuankalas
11-Mupa,Kuenes e Kudos
10-Hotentotes,Koisan
11-Wátuas,Kwepes,Kuisses
12-Kurocas

Por: Aníbal de Oliveira