terça-feira, 15 de maio de 2018

OS SESSENTA

No louco frenesi daqueles anos, explodia a liberdade acorrentada pelo formalismo hirto dos pós guerra.
SARTRE, DALI, PICASSO e GAUDI

Sartre acordava mentes, Dali e Picasso riam-se dos cânones, Gaudi e Montaner tinham proposto roturas absolutas com a linearidade da arquitectura novecentista, nas ruas de Paris as barricadas de 68 exigiam abertura, liberdade, evolução, justiça social e outras bandeiras.
O Vietname tinha-se tornado numa dramática e intolerável bandeira antiamericana, John e Robert Kennedy tinham sido assassinados, assim como Luther King e Malcom X, Che e Fidel tinham-se libertado de Fulgêncio Batista, Franco (nunca lhe perdoei a barbaridade medieva aplicada a Garmendia e Otaegui) e Salazar enfrentavam a contestação crescente com perseguições, prisões, censura, torturas e mortes.
KENNEDY, LUTHER KING, CHE e DELGADO   
Por cá, Dias Coelho tombava no Calvário às mãos de esbirros do regime, Delgado era atraído e assassinado por Rosa Casaco, Sena (e tantos outros) pressentia a detenção e fugia para o Brasil, a radio repetia incessantemente hinos feitos à pressa, "Angola é nossa, gritarei...", acontecia a Capela do Rato, Felicidade Alves escandalizava Thomaz e Gertrudes com homilias incendiárias, "Ultramar" tinha-se tornado numa palavra simultaneamente sagrada e maldita num país dividido pela ignorância intencional, onde democracia e liberdade eram palavras proscritas, proibidas, censuradas, mares de lenços brancos viam milhares de jovens esperanças esfumarem-se em navios para lá do Bugio, os corredores da cidade Universitária assistiam às convulsões de 62 e 69.
A América latina era um ninho de ditaduras sanguinárias e refúgio privilegiado de líderes e criminosos nazis, e o apartheid continuava a gerar massacres inenarráveis…

A "intervenção" manifestava-se (também) na música com Dylan e Baez, Buarque, Brassens, Moustaki. Por cá, ouvia-se quase às escondidas Zeca, Fanhais, Adriano, José Jorge Letria, Manuel Freire, e outros.
A poesia de Manuel Alegre denunciava a prisão e a amputação da palavra.
Já se tinha passado por Woodstock, pelo Flower Power, pelo Black Power, pelo "amor livre", sonhávamos viajar de chopper com Peter Fonda e Dennis Hopper em "Easy Rider", os movimentos de libertação da mulher organizavam-se, os códigos de comportamento sacudiam naftalinas, hábitos, costumes e limites viam alargar-se fronteiras, a ânsia de mudança gerava angústias sem direcção, refúgios no álcool e em drogas, em todo o tipo de excessos, pululavam movimentos libertários, muitos deles pouco consistentes e sem um norte concreto.
Era a louca e marcante década de 60, rastilho de todas as evoluções, revoluções, contestações.
E é neste caldo contestatário que Janis, exótica, provocadora, boémia e carismática, canta "hinos" de amor e revolta, que marcaram a quase totalidade da geração que viveu as décadas de sessenta e início de setenta.
Os excessos dela deram voz a milhões de ânsias mal contidas.
Para completar o quadro de "star" dos jovens, seguindo a filosofia "Live fast, die young", desapareceu em 70 com uma overdose de heroína, aos 27 anos.
A "Pearl" deixou-nos pérolas inesquecíveis, "Piece of my heart", "Rose", "Me and Bobby McGee", "Mercedes Benz", e........”Cry baby”!

ver:
Por:fpb/2015









3 comentários:

  1. Obrigado Vitor e Bernardes Neves pelo trabalho de selecção e inclusão destas fotografias, complementaram muito bem o texto. Parabéns. Esta foi a forma como vi a década de sessenta, mas outros poderão ver de outra forma, acrescentando sensibilidades e/ou experiências pessoais. Abraço

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  2. Obrigado...NÓS!...Vai escrevendo pois, és um literário e poeta. Só falta publicares os teus "tesouros". Hoje mesmo, recebi "As Memórias do Major", escrito por um dos nossos companheiros - Serafim Esteves. Abraço e, mantém-te vivo, dessa forma!

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  3. Muito bem F.Bastos
    Como disse o O Vitor, obrigado nós.
    Mais um momento em que recordamos os loucos anos sessenta, até setenta.Como bem dizes, a "Pearl",deixou-nos algumas obras intemporais, tais como "Me and Bobby McGee",e "Mercedes Benz", sem esquecer todos os outros "actores" que mencionaste.Haverá outros que brevemente és capaz de ter na forja e aqui apresentarás.Assim esperamos.Um abraço.

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