O Coronel António de Oliveira Viegas, foi piloto de um dos dois aviões da patrulha que saiu da Amadora no dia 5 de Setembro de 1928, em demanda das terras do Índico, com passagem pela Guiné, S. Tomé e Angola.
António Viegas terminou em fins de 1916,
em Mafra, o seu tirocínio, ainda como alferes. Algarvio de gema, sendo natural
de Sagres (Vila do Bispo), ingressou na aviação militar por ocasião do Natal de
1917, tendo-se brevetado a 9 de Março de 1918 – Um dos Pioneiros na Aviação Portuguesa.
Quando a Escola Militar de Aviação de Vila
Nova da Rainha se transferiu para a Granja do Marquês, coube ao então tenente
Viegas verificar a improvisada pista, em meados de 1919, e nela aterrou, por
entre o restolho, junto à Ribeira.
Mas além de pioneiro, o coronel Oliveira
Viegas foi um dos mais brilhantes aviadores, da celebrada época das viagens
aéreas. Já pela realização da viagem aérea, já citada, a Moçambique; já por ter
tomado também parte no Cruzeiro às Províncias do Ultramar, realizado de 14 de
Dezembro de 1935 a 8 de Abril de 1936, com termo também em Lourenço Marques.
Sobre a primeira, o coronel Viegas,
confidenciou que a ideia da viagem a Moçambique pertencera a Pais de Ramos, piloto, e a João Esteves, observador, que fizeram
equipa no mesmo avião, enquanto ele emparceirava com o mecânico Manuel António.
Sobre essa viagem que haveria a dizer, que
não tivesse sido já divulgado?
Viegas, citou duas recordações que mais
gravadas lhe ficaram na memória:
A primeira, a ideia da ida a S. Tomé, que
resolveram visitar em face de vários telegramas pedindo que por lá passassem,
pois a pista estava assegurada, e fora feita propositadamente para esse fim.
Partindo de Port Gentil, sempre com água
por debaixo, sem o mínimo ponto de referência, conseguiu-se galgar 300
quilómetros, contando só com a bússola e uma fé prodigiosa.
Quando já era tempo de surgir a formosa
ilha descortinaram-se dois pequenos pontos negros, rodeados de espuma oceânica.
Pensou-se que seriam dois barcos saídos de S. Tomé, para os auxiliar.
Afinal, quando se aproximaram, verificaram,
desolados, que não passavam de dois rochedos no meio do Atlântico!... Chegou-se
felizmente a essa terra acolhedora e matizada de variegada vegetação, como se
pretendia.
Foi
a primeira vez que a Ilha viu dois aviões, e mais importante era que levavam as
Cruzes de Cristo nas asas, símbolo da aviação militar portuguesa.
A pista tinha sido feita de propósito para
se aterrar lá. Mais tarde, soube-se que a esse aeródromo foi dado um nome dum
jovem alferes, que tinha sido assassinado, numa subversão indígena.
Foi a primeira viagem feita por uma equipa
de dois aviões e ao conjunto dos nossos territórios ultramarinos do continente
africano. Teve em vista estudar as possibilidades de envio de elementos aéreos
a África para efeitos duma eventual cooperação a estabelecer entre a aviação
militar e as tropas de terra em acção no Ultramar.
Foram
utilizados dois “Vickers Napier Valparaíso” de 450 CV.
Percorreram-se
17.397 Km em 94 horas, tendo como escalas:
Amadora
– Casablanca – Agadir – Cabo Juby – Port Etienne – S. Luís – Bolama – Tamba -
Counda – Kayess – Bomako – Sikasso – Bingerville – Accra – Lagos – Douala –
Port Gentil – S. Tomé – Port Gentil – Ponta Negra – Luanda – Benguela – Huamba
– Silva Porto – Vila Luso – Kazombo – Elisabetville – Broken Hill – Zumbo –
Tete – Chemba – Beira – Quelimane – Beira – Beira – Inhambane e Lourenço
Marques.
A Câmara de Comércio de Luanda ofereceu uma
linda Taça, que por decisão dos
sobreviventes ou famílias, foi oferecida ao Museu do Ar. E ali está em lugar de
merecido destaque.
Em toda a parte a tripulação foi bem
recebida e carinhosamente acolhidos em terra pátria e, para terminar, conta-se
uma recordação jocosa na chegada a Lourenço Marques e termo da viagem.
Depois da aterragem a tripulação foi
envolvida por uma enorme multidão que a vitoriava. Eram pretos e brancos
comungando no mesmo exuberante fervor patriótico.
Um deles, de Lisboa, perguntou se os pneus
do avião vinham ainda cheios desde Lisboa.
Quando lhe foi dito que sim, no meio do seu
entusiasmo, gritava eufórico: Ar, ar de Lisboa.
Foi um problema para o impedir de rebentar
os pneus, para aspirar o ar da sua terra!
São assim as almas
simples, generosas, mas cheias de civismo do nosso torrão pátrio!
=NOTAS FINAIS, COMO COMPLEMENTO=
AVIÕES DA AERONÁUTICA
MILITAR - VICKERS VALPARAÍSO I, II E III
“Em 1923 Portugal adquiriu em
Inglaterra 14 aeronaves “Vickers Valparaíso”, designados I ou II,
conforme estavam equipadas com motores Napier Lion (10 unidades) ou Rolls-Royce
Eagle (quatro unidades).
Estas aeronaves eram a versão
de exportação do biplano Vickers Vixen II, e a denominação Valparaíso
advinha-lhe do facto do seu protótipo ter sido fornecido ao Chile, e por isso
ter sido escolhido o nome duma cidade chilena. Os Vickers Valparaíso I foram
destinados ao Grupo de Aviação de Informação, em Alverca, com funções de
reconhecimento.
Os Vickers Valparaíso II foram
dotar a Escola Militar de Aviação (EMA), em Sintra, para funções de treino
avançado.
Em 1928, uma patrulha
constituída por dois Vickers Valparaíso I, com depósitos de combustível
suplementares, tripulados por Celestino Pais de Ramos e António de Oliveira Viegas como pilotos, João
Maria Esteves como observador, e o mecânico Manuel António,
efectuaram uma viagem de 17.397 km, ligando a
Amadora, Guiné Portuguesa, S. Tomé, Angola e finalmente Moçambique (Lourenço
Marques).
Notas: Recolha de
informações na Revista “Mais Alto” nº.
162 – Outubro 1972 e, na rúbrica “Clube de Especialistas do A.B.4.”, com
data de 25/11/2011, da autoria do editor do Blogue – Aníbal de Oliveira
Até breve
O amigo
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