terça-feira, 23 de janeiro de 2018

RESSURGINDO UM PIONEIRO…COR. ANTÓNIO DE OLIVEIRA VIEGAS



O Coronel António de Oliveira Viegas, foi piloto de um dos dois aviões da patrulha que saiu da Amadora no dia 5 de Setembro de 1928, em demanda das terras do Índico, com passagem pela Guiné, S. Tomé e Angola.
António Viegas terminou em fins de 1916, em Mafra, o seu tirocínio, ainda como alferes. Algarvio de gema, sendo natural de Sagres (Vila do Bispo), ingressou na aviação militar por ocasião do Natal de 1917, tendo-se brevetado a 9 de Março de 1918 – Um dos Pioneiros na Aviação Portuguesa.
Quando a Escola Militar de Aviação de Vila Nova da Rainha se transferiu para a Granja do Marquês, coube ao então tenente Viegas verificar a improvisada pista, em meados de 1919, e nela aterrou, por entre o restolho, junto à Ribeira.
Mas além de pioneiro, o coronel Oliveira Viegas foi um dos mais brilhantes aviadores, da celebrada época das viagens aéreas. Já pela realização da viagem aérea, já citada, a Moçambique; já por ter tomado também parte no Cruzeiro às Províncias do Ultramar, realizado de 14 de Dezembro de 1935 a 8 de Abril de 1936, com termo também em Lourenço Marques.
Sobre a primeira, o coronel Viegas, confidenciou que a ideia da viagem a Moçambique pertencera a Pais de Ramos, piloto, e a João Esteves, observador, que fizeram equipa no mesmo avião, enquanto ele emparceirava com o mecânico Manuel António.

Sobre essa viagem que haveria a dizer, que não tivesse sido já divulgado?
Viegas, citou duas recordações que mais gravadas lhe ficaram na memória:
A primeira, a ideia da ida a S. Tomé, que resolveram visitar em face de vários telegramas pedindo que por lá passassem, pois a pista estava assegurada, e fora feita propositadamente para esse fim.
Partindo de Port Gentil, sempre com água por debaixo, sem o mínimo ponto de referência, conseguiu-se galgar 300 quilómetros, contando só com a bússola e uma fé prodigiosa.
Quando já era tempo de surgir a formosa ilha descortinaram-se dois pequenos pontos negros, rodeados de espuma oceânica. Pensou-se que seriam dois barcos saídos de S. Tomé, para os auxiliar.
 Afinal, quando se aproximaram, verificaram, desolados, que não passavam de dois rochedos no meio do Atlântico!... Chegou-se felizmente a essa terra acolhedora e matizada de variegada vegetação, como se pretendia.
Foi a primeira vez que a Ilha viu dois aviões, e mais importante era que levavam as Cruzes de Cristo nas asas, símbolo da aviação militar portuguesa.
A pista tinha sido feita de propósito para se aterrar lá. Mais tarde, soube-se que a esse aeródromo foi dado um nome dum jovem alferes, que tinha sido assassinado, numa subversão indígena.
Foi a primeira viagem feita por uma equipa de dois aviões e ao conjunto dos nossos territórios ultramarinos do continente africano. Teve em vista estudar as possibilidades de envio de elementos aéreos a África para efeitos duma eventual cooperação a estabelecer entre a aviação militar e as tropas de terra em acção no Ultramar.
Foram utilizados dois “Vickers Napier Valparaíso” de 450 CV.
Percorreram-se 17.397 Km em 94 horas, tendo como escalas:
Amadora – Casablanca – Agadir – Cabo Juby – Port Etienne – S. Luís – Bolama – Tamba - Counda – Kayess – Bomako – Sikasso – Bingerville – Accra – Lagos – Douala – Port Gentil – S. Tomé – Port Gentil – Ponta Negra – Luanda – Benguela – Huamba – Silva Porto – Vila Luso – Kazombo – Elisabetville – Broken Hill – Zumbo – Tete – Chemba – Beira – Quelimane – Beira – Beira – Inhambane e Lourenço Marques.
A Câmara de Comércio de Luanda ofereceu uma linda Taça, que por decisão dos sobreviventes ou famílias, foi oferecida ao Museu do Ar. E ali está em lugar de merecido destaque.
Em toda a parte a tripulação foi bem recebida e carinhosamente acolhidos em terra pátria e, para terminar, conta-se uma recordação jocosa na chegada a Lourenço Marques e termo da viagem.
Depois da aterragem a tripulação foi envolvida por uma enorme multidão que a vitoriava. Eram pretos e brancos comungando no mesmo exuberante fervor patriótico.
Um deles, de Lisboa, perguntou se os pneus do avião vinham ainda cheios desde Lisboa.
Quando lhe foi dito que sim, no meio do seu entusiasmo, gritava eufórico: Ar, ar de Lisboa.
Foi um problema para o impedir de rebentar os pneus, para aspirar o ar da sua terra!
São assim as almas simples, generosas, mas cheias de civismo do nosso torrão pátrio!



=NOTAS FINAIS, COMO COMPLEMENTO=
AVIÕES DA AERONÁUTICA MILITAR - VICKERS VALPARAÍSO I, II E III
“Em 1923 Portugal adquiriu em Inglaterra 14 aeronaves Vickers Valparaíso, designados I ou II, conforme estavam equipadas com motores Napier Lion (10 unidades) ou Rolls-Royce Eagle (quatro unidades).
Estas aeronaves eram a versão de exportação do biplano Vickers Vixen II, e a denominação Valparaíso advinha-lhe do facto do seu protótipo ter sido fornecido ao Chile, e por isso ter sido escolhido o nome duma cidade chilena. Os Vickers Valparaíso I foram destinados ao Grupo de Aviação de Informação, em Alverca, com funções de reconhecimento.
Os Vickers Valparaíso II foram dotar a Escola Militar de Aviação (EMA), em Sintra, para funções de treino avançado.
Em 1928, uma patrulha constituída por dois Vickers Valparaíso I, com depósitos de combustível suplementares, tripulados por Celestino Pais de Ramos e António de Oliveira Viegas como pilotos, João Maria Esteves como observador, e o mecânico Manuel António, efectuaram uma viagem de 17.397 km, ligando a Amadora, Guiné Portuguesa, S. Tomé, Angola e finalmente Moçambique (Lourenço Marques).



Notas: Recolha de informações na Revista “Mais Alto” nº. 162 – Outubro 1972 e, na rúbrica “Clube de Especialistas do A.B.4.”, com data de 25/11/2011, da autoria do editor do Blogue – Aníbal de Oliveira
           

Até breve                                                                                   
O amigo

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