terça-feira, 24 de outubro de 2017

GAGO COUTINHO

SOBRE OS SIGNOS DO AQUÁRIO E DOS PEIXES 



Quando se escreve, sob os signos de “Aquário” e “Peixes”, não se pretende dizer que o glorioso almirante tivesse seguido a carreira do mar por influência do seu horóscopo – e acreditamos até que o tivesse feito por vocação irresistível – mas simplesmente para recordar que os dois polos da sua existência – o nascimento e a morte – tiveram lugar dentro dessas quadras que vão de 21 de Janeiro a 17 de Fevereiro, a primeira, e de 18 de Fevereiro a 20 de Março, a outra.
Na realidade o sábio almirante nasceu a 17 de Fevereiro de 1869 e faleceu a 18 de Fevereiro de 1959, ou seja, respectivamente, no último dia do primeiro signo, e no primeiro do segundo signo referido. Mas verifica-se curiosamente que, a despeito de Gago Coutinho ter sido um ilustre e sabedor oficial de Marinha, se tornou famoso nas rotas do firmamento, como ele próprio escreveu: “E assim fomos abrindo aqueles ares”…

       “Lusitânia” – 1922                                   Rota Atlântico Sul                            Sacadura Cabral

Há homens de pequena estatura que, graças à sua pujança intelectual e qualidades de toda a ordem, se agigantam, transpõem os umbrais da glória e da fama e assim entram definitivamente na História.
Carlos Viegas de Gago Coutinhode seu nome completo, filho de algarvios, era lisboeta, pois nasceu na Calçada da Ajuda nº. 72, num pequeno prédio de dois pisos, paredes meias com o Comando do Regimento de Cavalaria 7, em cujo frontispício foi descerrada uma lápide comemorativa em 1952, inaugurada sendo Ministro da Marinha o almirante Américo Tomás.
Quer dizer, Gago Coutinho veio ao Mundo, no Bairro de Belém, nas vizinhanças do local donde partiria, com Sacadura Cabral, para escrever em letra de oiro uma epopeia, nos anais da história pátria e para se universalizar.Na sua qualidade de geógrafo eminente, tomou conhecimento com Sacadura Cabral, em 1913, que fazia também parte da missão que demarcou a fronteira do Barotze, entre Angola e a Rodésia.
Mais tarde, a convite de Sacadura, vai visitar a Escola de Aeronáutica Militar, criada em 1916.
Aí recebe a 23 de Fevereiro de 1917 – portanto sob o signo dos “Peixes” – o batismo de voo, com 48 anos, feito por Sacadura Cabral.
Esse voo de tal forma lhe agradou que provocaria uma viragem na sua vida de uma actividade polifacetada. 
É ele que escreve no seu diário, como o fazia habitualmente: “Vou ao aeródromo de Vila Nova da Rainha e dou três voos com Sacadura. Total: 35 minutos no ar. Admirável a segurança; demos vários saltos, curvas, etc., até governei um pouco. 
Pareceu-me bastante fácil, e até mais seguro que eu julgava. Em todo o caso entusiasmei-me.”
O aparelho em que Gago Coutinho voou era o Farman “M F – 4”, conhecido por “Casta Susana”, cuja réplica se pode admirar no Museu do Ar. 
Mas para os homens habituados a navegar nos oceanos com segurança, por utilização de processos científicos, a rudimentar aparelhagem de bordo era insuficiente, e Gago Coutinho, conquistado pelo avião, pensou então estudar novos métodos de navegação aérea, pela aplicação do sextante, utilizado na Marinha, depois de devidamente melhorado para o fim em vista. Um grande cometimento aéreo, com que Sacadura ardentemente sonhava!
E tal facto tornaria Gago Coutinho, criador de processos de navegação aérea, inéditos e eficientes, e consagrariam o seu nome, com a travessia do Atlântico Sul. 
Gago Coutinho, um talento invulgar e multiforme, foi sempre uma alma simples e isenta de vaidades. Possuía não a grandeza dos humildes, mas a humildade dos grandes.
Fecharia para sempre os seus olhos no dia imediato a ter completado 90 anos. Por sua vontade, e desprezando as honras a que tinha direito de funeral nacional, foi enterrado em campa rasa, numa tosca urna, envergando o seu velho fato, já coçado, de geógrafo, no cemitério da Ajuda, com a inscrição que ele próprio havia redigido: Gago Coutinho – Geógrafo – 1869-195…
Dir-se-ia que o grande almirante sabia de antemão, talvez por aviso divino ou pressentimento, que deixaria a vida terrena – pois alcançara já a imortalidade – no derradeiro ano da quinta década do Século XX.

“Santa Cruz” - hidrovião fairey F III – D

Notas: Recolha de informação na Revista “Mais Alto” nº. 154 – Fevereiro 1972
           
Até breve 
O amigo Vítor Oliveira -- Ocart

1 comentário:

  1. Muito obrigada, Vítor, por nos ter enviado este magnífico documento que nos ajudou a formar uma ideia mais fiel do grande homem que foi Gago Coutinho. Vou ler de novo que é o que faço sempre que quero reter conhecimentos que me interessam.Bj.

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