Na estrada que liga Beja a Aljustrel,
a cerca de 10 Km, na Herdade da Almagrassa, e bem próximo da aldeia de Penedo Gordo, encontramos um verdadeiro
tesouro da época romana deixado em terras portuguesas. A Villa Romana de Pisões, assim chamada por se encontrar delimitada
pelo barranco de Pisões, foi acidentalmente descoberta em 1967, tendo as
investigações arqueológicas revelado tratar-se de uma importante exploração agrícola da época da ocupação romana que
abastecia a região.
A Villa ocupa uma área de cerca de 30 mil metros quadrados numa zona
plana, estendendo-se ligeiramente por uma suave encosta próxima de uma barragem
que mantinha as termas e a piscina de outrora. Destaque para os bem
conservados e coloridos mosaicos que representam cenas naturalistas ou
composições geométricas, mono ou policromados, e que decoram o pavimento das
mais importantes divisões da área residencial.
As escavações arqueológicas e estudos
efectuados nestas ruínas, confirmam que a villa terá sido ocupada entre os séculos I e IV d.C. A área
residencial dos proprietários é o património que, até agora, maiores estudos
sofreram. Seria uma habitação com mais de quarenta divisões com compartimentos essencialmente caracterizados
pela sua riqueza decorativa. Estas divisões encontravam-se dispostas em torno
de um pátio central descoberto, denominado peristilo. A fachada, que seria
porticada, estaria virada
a Sul, abrindo sobre um grande tanque ainda hoje bem conservado.
Tanques, piscina e termas de
apreciáveis dimensões, existiriam igualmente nesta propriedade, em
aproveitamento da proximidade da barragem de Pisões, constituindo mesmo, o
edifício termal, um dos mais relevantes exemplares de termas privadas romanas
encontrados em território português.
Todo o conjunto de mosaicos
existentes nas ruínas romanas de Pisões é verdadeiramente assinalável, com
peças de grande qualidade, composições geométricas e naturalistas, desde
mosaicos monocromáticos até aos policromados.
Dignos de destaque são, igualmente, o edifício termal, com a sua planta
bem definida e o hipocausto (arcada para aquecimento) muito bem conservado, e o
paredão de uma barragem romana, abastecida pelas águas da ribeira da Chaminé, situado
a cerca de duzentos metros da villa, a qual teria como função constituir-se
como uma reserva de água para o abastecimento da exploração agrícola e para a
vida doméstica.
Esta barragem foi construída em alvenaria de pedra e
argamassa e possuía uma albufeira com cerca de 340 metros de comprimento, 31.300
metros quadrados de área inundada, armazenando um volume de água de 38.000
metros cúbicos.
Na época, davam-se as culturas da vinha,
oliveira, produção de cereais e de gado, tal como ainda hoje, que abasteciam os
mercados de Pax Julia (Beja), ou de outras cidades do Alentejo e Algarve, bem como
do exército e de coutos mineiros, como Vipasca (Aljustrel) e Mina de S.
Domingos.
A fachada principal da casa abria para um grande
tanque exterior, para além do qual se situam também vestígios de mausoléus
familiares, tendo sido, até ao momento, escavados três.
É
possível observar-se a riqueza do proprietário e o gosto da época quer no
revestimento dos pavimentos, com mosaicos e mármores, quer no das paredes, com pintura mural, da qual ainda se
conservam alguns vestígios.
Nas escavações foram também recuperados
alguns elementos que apontam para uma continuidade até à ocupação da Península
Ibérica pelos muçulmanos.
Ao
contrário do que acontece na maioria dos sítios romanos, onde não existem dados
concretos sobre os seus habitantes, em Pisões foi encontrado um pequeno altar em mármore devotado a
Salus, a deusa da felicidade e da saúde. Aí, encontra-se uma inscrição
que revela que o altar foi dedicado pelo
escravo Catulo, a Gaio Atílio Cordo.Assim, é possível que este nome corresponda àquele que
era o proprietário da villa em determinado momento do século I d.C., sendo Catulo um dos seus escravos.
No caminho de acesso à villa, próximo da barragem
romana, ainda hoje é possível observar-se os vestígios dos pisões que terão dado o nome a este sítio
arqueológico. Apesar de não se conhecer a cronologia deste engenho, é certo que
muitos pisões só deixaram de estar em funcionamento ao longo da primeira metade
do século XX.
Os balneários, com as diversas zonas diferenciadas consoante a temperatura
(caldarium, tepidarium e frigidarium), são de arquitectura complexa e muito
cuidada: salas cujo pavimento era feito sobre arcos e colunas (para terem
aquecimento inferior), paredes duplas de tijolo (para aquecimento lateral pela
passagem constante de ar quente), piscinas para banhos frios e para banhos
quentes, e canalização principalmente de chumbo.
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