quinta-feira, 18 de maio de 2017

MINAS DE ALJUSTREL “VIPASCA”



Há 350 milhões de anos, a atividade vulcânica submarina que ocorreu na faixa piritosa ibérica (desde Aljustrel até Sevilha) deu origem a importantes jazigos de sulfuretos maciços polimetálicos associados aos flancos de cones vulcânicos, na forma de pirites, calcopirites, blendas, galenas e cassiterites.

A ocupação humana deste local data de há 5.000 anos, durante a Idade do Cobre, conforme está comprovado pelos materiais arqueológicos recolhidos no Castelo. Posteriormente, as minas foram aproveitadas por fenícios e cartagineses contudo, é durante o período romano que a sua ocupação sofreu um grande incremento, com o aproveitamento em larga escala dos seus recursos mineiros, donde era estraído além do cobre, a prata e o ouro.
Esse período compreendeu a transição do séc. I ao III d.C., sob o domínio do Imperador Adriano, em que a actividade mineira se intensifica, conforme testemunham as centenas de milhares de toneladas de escórias antigas amontoadas nas proximidades da mina de Algares, assim como a diversidade de achados arqueológicos e os numerosos poços.
Sabe-se que se deram explorações com intensidade nas minas de Aljustrel (Vipasca), São Domingos e Riotinto, associadas aos chapéus de ferro ou gossans, zonas superficiais mais oxidadas das massas de sulfuretos.
Seria nesses escoriais romanos que foram descobertas, respectivamente, em 1876 e 1906, duas tábulas de bronze, que representam os mais completos documentos escritos da administração mineira romana até hoje encontrados. Estas importantes descobertas projectaram o nome de Aljustrel no seio da comunidade científica internacional, tendo ambas sido objecto de apurados estudos pelos maiores especialistas nacionais e estrangeiros, nomeadamente os portugueses Estácio da Veiga e Augusto Seromenho e posteriormente o francês Claude Domergue.



A região mineira que se regia por estas leis era conhecida por Metallum Vipascencis, e o povoado existente na sua proximidade era denominado Vipasca. Os romanos exploraram-nas, durante vários séculos, sobretudo pelo cobre e prata que apareciam com teores elevados nos minérios do chapéu de ferro (afloramento do jazigo à superfície) dos jazigos de Algares e de S. João do Deserto.
Depois dos romanos, os árabes também aproveitaram estes recursos mineiros, mas numa escala mais reduzida. Posteriormente, só no séc. XVI, no reinado de D. Manuel I, as minas de Aljustrel voltam a ser referidas, tendo depois caído no esquecimento por vários séculos.

TÁBULAS DE BRONZE

As notáveis tábuas de bronze das minas de Aljustrel, descobertas nas antigas escombreiras romanas da mina, contêm legislação mineira vigente naquela exploração, estipulando as obrigações a que tanto pessoas individuais, como os estabelecimentos ali existentes, eram obrigados.
Em 1876 é descoberta a 1.ª Tábua de Bronze com a parte da legislação mineira romana. Este achado, que foi estudado pelos mais conceituosos investigadores nacionais e estrangeiros, referia a existência do couto mineiro Mettalum Vipascencis.  
Posteriormente, em 1906 foi encontrada uma 2.ª Tábua de Bronze que veio complementar alguma informação legislativa, no entanto, a legislação continua incompleta uma vez que falta uma 3.ª Tábua. (…)
As placas de bronze contêm inscrição jurídica em latim. O texto é composto por 46 linhas gravadas em letra latina, representando um trecho de um código de minas que abrangia pelo menos três placas. A placa apresenta cinco furos para fixação e encontra-se parcialmente dobrada. O texto está redigido formalmente sob
a forma de carta endereçada a Úpio Eliano, o procurador do distrito mineiro de Vipasca. 



1ª. TÁBUA DE BRONZE (Vipasca I)Regulamentava: Como se fazia o leilão dos diversos ofícios postos a concurso e a que regras devia obedecer o respectivo pregoeiro; as condições de utilização do balneário público; as normas do exercício de profissões como a do sapateiro, do barbeiro, do pisoeiro, dos negociantes de escórias e de pedra, do mestre-escola…
2ª. TÁBUA DE BRONZE (Vipasca II) Regulamentava: Parte de um regulamento técnico, em que as normas de segurança, por um lado, e as cláusulas de índole fiscal, por outro, se revestem de grande modernidade e demonstram a preocupação do legislador em tudo convenientemente salvaguardar as pessoas e…os bens! – porque, daí advinham receitas para o fisco…
Estas Tábuas encontram-se expostas no Museu Geológico em Lisboa, na Sala de Arqueologia.

A MINERAÇÃO DE ALJUSTREL

A mineração em Aljustrel constitui parte integrante e fundamental da história da freguesia e do próprio concelho. Situadas na faixa piritosa ibérica, estende-se desde a Serra da Caveira (Grândola) até às proximidades de Huelva (Sul de Espanha). Tem cerca de 250 Km de comprimento e 30 a 50 Km de largura. As minas de Aljustrel e de S. Domingos, constituíam, nos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, os principais complexos mineiros de Portugal.
A extracção de enxofre foi muito importante até aos finais da década de 50 do século XX devido à aplicação na indústria química (fabrico de ácido sulfúrico).
A viabilidade económica das minas da Faixa Piritosa depende atualmente da extração de cobre, zinco, chumbo e, nalguns casos, de metais preciosos como o ouro e a prata.


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