quinta-feira, 20 de abril de 2017

VILA ROMANA DE CUCUFATE


As ruínas romanas de Cucufate situam-se em Vila de Frades, no concelho da Vidigueira, no Baixo Alentejo. Estão datadas do século I d. C. e são consideradas como um centro de exploração agrícola.
Antes da romanização, alguns materiais encontrados nas escavações arqueológicas demonstram que este local foi anteriormente habitado por povos do Neolítico Final, entre os últimos séculos do quarto milénio e os primeiros séculos do terceiro milénio a. C., num contínuo aproveitamento da riqueza destes solos e da abundância de água. 
É durante a época romana que o local irá conhecer uma duradoura e marcante ocupação. Aí se instalou uma villa, isto é, uma exploração agrícola de grande dimensão, integrando a residência do proprietário, habitações para os seus criados e escravos, armazéns, celeiros, adegas e lagares, termas, jardim e um templo.
O proprietário residia nesta villa pelo menos durante parte do ano, e aqui, organizavam-se os trabalhos necessários à produção, armazenamento e transformação dos produtos da terra que lhe pertenciam.
A residência senhorial desta primeira instalação foi-se, progressivamente monumentalizando, tendo passado por duas grandes campanhas de obras. No século II é feita uma outra edificação, e em meados do século IV, acedeu-se a nova reestruturação que denuncia uma ruptura com o modelo arquitectónico seguido no decurso dos séculos anteriores. A tradicional casa romana, fechada sobre si mesma e centrada sobre um ou mais pátios interiores (“casa de peristilo”), substitui-se, então, por uma arquitectura de ostentação, aberta ao exterior, de desenvolvimento linear, em que as fachadas são valorizadas pela multiplicação dos vãos como elemento de ligação entre os espaços interiores e o exterior. São desta última fase os vestígios que, ainda hoje, testemunham a grandiosidade e opulência de uma época que se aproximava do seu fim. 
Próximo do local e na entrada na villa, na sua frente, surge um templo dedicado a divindades não identificadas, o Oratório, com características semelhantes às do templo das ruínas romanas de Milreu, em Estói, perto de Faro. Oratório, edificado em finais do século IV, já convertido ao culto cristão. Desconhece-se a divindade consagrada, mas sabe-se que os romanos inicialmente preferiram uma religião politeísta, e acabaram por aderir gradualmente ao cristianismo.
Esta Villa romana com planta em “U” aberto é constituída por dois pisos, sendo o piso superior a zona residencial. Integra-se no tipo das villa  céltico-romanas, comum nas Gálias, Germânia e Britânia. A villa romana supera em dimensões todas as Vilas romanas de Portugal. Os paralelos mais próximos são as Vilas romanas de Milreu, Pisões e do Rabaçal .

O fim do Império Romano, nos inícios do século V, não ditou, porém, o abandono definitivo deste sítio. Na parte térrea do edifício e, em data incerta nos inícios da  Idade Média, (talvez ainda na era visigótica), instalou-se um mosteiro consagrado a S. Cucufate.  A partir do século XIII, serão os frades Agostinhos de São Vicente de Fora a ocupar o local, e posteriormente, serviu de Convento à Ordem Militar de Santiago sendo abandonado no séc. XVI.
Com algumas descontinuidades, transformações e adaptações, a ocupação deste mesmo espaço prolongou-se até aos finais do século XVIII, tendo-se utilizado parte da casa romana como igreja, decorada em sucessivas épocas com pinturas murais.
Foi esse aproveitamento da habitação romana durante os séculos posteriores que, permitindo a sua manutenção e conservação parcial até aos nossos dias, faz de S. Cucufate um caso ímpar no conjunto dos sítios arqueológicos romanos de Portugal. 



 S. Cucufate, mártir cristão executado em 304 d.C. na actual Catalunha

Nascido em Scillium (província romana de Cartago) por volta de 270, pregou o cristianismo na Catalunha (onde é conhecido como Sant Cugat) na companhia de São Félix. Entre outras, esteve na cidade de Ampúrias, (perto de Gerona), até que o império romano o condenou à morte.
A lenda diz que primeiro lhe abriram o ventre e o evisceraram, mas que ele meteu de novo as vísceras dentro do abdómen que coseu com uma corda. Mais tarde, o imperador Galério condenou-o à fogueira, mas supostamente o sopro de Deus apagou as chamas. Depois, foi encerrado numa masmorra, mas os carcereiros converteram-se ao Cristianismo. Finalmente, a lenda diz que Deus permitiu a Cucufate - cujo desejo era aceder ao Paraíso pela via do martírio - que o degolassem.
Em seu nome foi chamada a localidade de Sant Cugat del Vallès (na província de Barcelona, Catalunha), onde se crê que foi executado, e o Mosteiro de São Cucufate na mesma localidade.
Seria já oriundo duma família nobre cristã. Contudo, o Cristianismo ainda não era tolerado pelo Império Romano. Só o será oficialmente a partir de 313 d. C. pelo Édito de Milão promulgado pelos Imperadores Constantino I e Licínio.
São Cucufate teria iniciado os seus estudos no campo das letras em Cesariense, cidade-região da Mauritânia, e aí terá supostamente encontrado o seu fiel companheiro - São Félix. Contudo,  São Cucufate teve, desde cedo, que enfrentar um período de ferozes perseguições aos cristãos. Diocleciano e Galério defendiam acerrimamente o culto pagão e, por isso, não estavam dispostos a aceitar a doutrina de Jesus Cristo. Por isso, é crível que a sua ida para a Península Ibérica tenha sido motivada por perseguições realizadas em África. Também São Félix o teria acompanhado alegadamente nesta nova aventura.
Mesmo assim, o ambiente de repressão não terá esfriado o espírito de devoção de São Cucufate e de, seu companheiro, São Félix (também com origens africanas) que pregaram o Cristianismo na Catalunha. De imediato, os dois pregadores esquecem as suas origens ricas e distribuem os seus bens pelos mais necessitados. Aceitam o seu novo estado de pobreza e humildade. Entram em casas particulares, professando a fé cristã e deixando de temer a morte. O seu impacto começa a ser registado. Contudo, as perseguições seriam também reatadas em Barcelona. Neste âmbito, foi detido e presente a um primeiro julgamento diante do Prefeito/Pro-Cônsul Galério, sendo um dos excertos desse episódio narrado nos volumes da España Sagrada:
Galério - Diz-me, louquíssimo rebelde, em que confias para atrever-te a desapreciar os mandatos dos Imperadores e negar o culto aos Supremos Deuses?
São Cucufate - A quem, ó muito idiota, mandais que se dê culto, sendo não deuses, mas sim invenções feitas por parte do engano diabólico e necessidades de outros semelhantes a ti?
Resposta esta que não agradou mesmo nada a Galério que ordenou a sua imediata tortura. Mas São Cucufate não pereceria, pois resistiu aos tormentos a que fora sujeito.
De acordo com as escrituras da España Sagrada, seria depois a vez de Maximiano, também Prefeito Romano ou Governador Local, interrogar São Cucufate. Mais uma vez, a discussão foi assim narrada pela fonte já citada:
Maximiano - A que Deus veneras?
São Cucufate - Como perguntas com esse modo duvidoso, como se houvesse muitos deuses. Não há mais do que um, a quem eu venero, que fez o Céu e a Terra.
Maximiano - Pois se esse é o verdadeiro deus, vamos ver se ele te livra dos tormentos.
São Cucufate - De ti, ó execrável e de teu pai, o Diabo, com todos os teus tormentos eu me rio pela virtude de Deus, pois verdadeiramente és muito demente e miserável, por
teres deixado a Deus e adorares caixa de demónios.  
Maximiano também não apreciou as respostas deste santo e ordenou novas torturas. Reza a lenda de que quando iria ser queimado vivo, o fogo apagou-se com o vento que se fazia sentir e tal foi encarado por muitos cristãos, como um sinal de Deus. De regresso à cela, São Cucufate teria convertido os guardas que estariam a vigiá-lo. Por isso, os grandes responsáveis pela perseguição ao Cristianismo tinham razões para invejar e odiar os feitos deste jovem que afinal teria uma idade a rondar apenas os 20 a 30 anos.
Todavia, a existência heroica de São Cucufate e São Félix teria uma data marcada para o seu fim. Daciano, o novo governador local, chega a Barcelona em Julho de 304 d. C. e impõe inúmeras perseguições (talvez seguindo as ordens imperiais), o que por seu turno, originou diversas execuções. São Cucufate que se destacava, não escapou à crueldade do novo governador e do seu oficial Rufino. Desta vez, eles queriam assegurar a sua morte imediata, já que a tortura não estava a assegurar quaisquer resultados.
De acordo com a Enciclopédia - España Sagrada, o nosso santo foi degolado junto ao Castro Octaviano, talvez localizado a oito milhas (12 km) de distância da cidade de Barcelona, ainda nesse mês de Julho de 304 d. C. Logo após a tolerância oficial de culto datada de 313 d. C., vários foram os crentes que se concentraram no local do seu martírio, prestando uma tremenda devoção. No início do século IX, é mesmo fundado o Mosteiro de Sant Cugat (assim é designado em catalão, o nosso São Cucufate) que ainda hoje pode ser visitado em Barcelona.
O seu fiel amigo São Félix seria executado dias mais tarde em Gerona, mas não seriam os únicos mártires canonizados a serem sacrificados pelo impiedoso Daciano.
Em Vila de Frades, o culto à personalidade de São Cucufate iniciou-se na Idade Média com a existência dum mosteiro beneditino, embora construído em data desconhecida (já no período visigótico), e ainda hoje, constitui um dos oragos da Freguesia. Existem mesmo pinturas murais/frescos em sua memória nalguns edifícios religiosos desta vila alentejana. O dia 25 de Julho, é o Dia de Cucufate, celebrado em Vila de Frades, ainda hoje. 





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