domingo, 8 de janeiro de 2017

CROMELEQUE DOS ALMENDRES


Há aproximadamente sete a oito mil anos atrás, e durante o período Neolítico, a região da Península Ibérica assistiu à sedentarização progressiva dos seus povos. De caçadores que seguiam as migrações sazonais das suas presas, os seres humanos passaram a cultivar as suas próprias terras e a criar os seus próprios animais para pastoreio e consumo. Começaram, então, a nascer e crescer populações com raízes seguras e personalidades bem definidas, consoante os locais onde se estabeleciam e as tradições que paulatinamente iam construindo. O Cromeleque dos Almendres é um reflexo claro e de proporções gigantescas dessa era de encantamento pagão, também providencialmente conhecida por Período da Pedra Polida. Construído voltado a nascente, este recinto megalítico (mega=grande; litho=pedra) situa-se numa encosta suave bem alentejana na Herdade dos Almendres.
Constitui-se num círculo de pedras pré-histórico (cromeleque) com 95 monólitos de pedra. É o monumento megalítico do seu tipo mais importante da península Ibérica, e um dos mais importantes monumentos megalíticos do mundo, bem mais antigo do que o famoso Stonehenge, não apenas pelas suas dimensões, como também pelo seu estado de conservação. No seu apogeu, o conjunto arquitectónico do Cromeleque dos Almendres teria mais de uma centena de monólitos. Junto com o menir dos Almendres, localizado nas proximidades, a região de Évora é densamente coberta por sítios arqueológicos que vão desde o início do Neolítico (7000 a 8000 anos atrás) até a Idade do Ferro, (1.200 a.C.) abrangendo menires, antas, necrópoles e povoações pré-históricas. O cromeleque dos Almendres pertence, assim, ao universo megalítico eborense e está relacionado com outros círculos de pedras das proximidades, como o Cromeleque da Portela de Mogos, em Montemor-o-Novo.Segundo os trabalhos arqueológicos realizados no local, acredita-se que o conjunto foi formado em três etapas: 
No final do Neolítico Antigo (fim do sexto milénio a.C.) foi erigido um conjunto de monólitos de pequeno tamanho, agrupados em três círculos concêntricos. O maior destes círculos media 18,80 m e o menor, 11,40 m. Actualmente há vinte e dois menires de pé neste recinto, dois tombados e restos de estruturas de sustentação de cinco outros; 
No Neolítico Médio (quinto milénio a.C.) foi erigido a oeste dos círculos anteriores um novo recinto com a forma de duas elipses concêntricas, irregulares, adossadas ao recinto mais antigo. A elipse mais externa mede 43,60 m em seu eixo maior e 36 m no eixo menor. Durante os trabalhos arqueológicos foram encontrados ali vinte e nove menires em pé e dezassete tombados, além de estruturas de sustentação de onze menires já desaparecidos;
No Neolítico Final (terceiro milénio a.C.) os dois recintos foram modificados, especialmente o menor, que foi transformado numa espécie de átrio do recinto maior. Com a remodelação, o recinto menor possivelmente passou a orientar a entrada no recinto elíptico, com uma função nas solenidades sócio religiosas que se realizavam ali. Além disso, é possível que nesse período tenham sidoacrescentados aos dois recintos alguns monólitos com gravuras e que alguns menires tenham sido parcialmente aplainados, transformando-os em estelas.
Apesar dos monólitos terem predominantemente uma forma mais ovoide, existem bastantes megálitos, pedras de proporções maiores, com formatos fálicos. Uma destas pedras alçadas de tamanho
descomunal, intimamente ligada com o Cromeleque, embora isolada do mesmo, é o Menir dos Almendres. No Solstício de verão e quando visto do Cromeleque, o Menir dos Almendres aponta ao nascer do sol.
Ainda que a verdadeira função do Cromeleque e o Menir dos Almendres não seja precisa, a forte ligação que ambos têm à agricultura e pastoreio parece ser inegável. O Professor José Hermano Saraiva, acreditava que o fecundar do ventre terreno com falos em pedra era uma forma de culto à fertilização das terras para a lavoura.

Menires decorados


 O Menir e mais dez dos monólitos do cromeleque dos Almendres apresentam decorações em relevo e tamanho natural que também nos remetem para a lavra e a criação de gado. Estas são denominadas de báculos, ou seja, gravuras em forma de cajado de pastor. Outras gravuras predominantes nos menires deste monumento são linhas onduladas e radiais, círculos e covinhas. Os menires estão, actualmente, todos numerados. Os decorados, e por isso imperdíveis, são os 5, 13, 48, 56, 57, 58, 64, e 76., sendo que o:
  - Menir 48: apresenta uma pequena figura antropomórfica associada a um báculo.
 - Menir 57: numa face propositalmente aplainada mostra uma série de treze relevos em forma de báculos. Essas figuras ocorrem também noutros menires e são, provavelmente, representações de objetos de prestígio social construídos em xisto e materiais perecíveis. De facto, báculos de xisto são encontrados em monumentos megalíticos alentejanos.
 - Menir 56: numa face aplainada apresenta uma representação estilizada de uma grande face humana, com nariz, olhos e boca. Pode ser considerado uma estátua-menir.
 - Menir 76: também possui uma figura antropomórfica, como o menir 56. A decoração de ambos se assemelha ao de menires do Cromeleque da Portela de Mogos.
 - Menir 64: localizado próximo ao centro do recinto maior, apresenta relevos em forma de raquetas e círculos.
 - Menir 58: possui três representações de discos solares, associados a linhas onduladas que representam raios.


O Menir dos Almendres fica bastante perto do Cromeleque dos Almendres e ambos estão intimamente relacionados. Visto a partir do Cromeleque, o Menir indica o nascer do Sol no Solstício de verão (o maior dia do ano). 


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1 comentário:

  1. Gostei. Nunca visitei o Cromeleque dos Almendres. É tempo de levar os meus netos a almoçar no Fialho, isto depois da visita : primeiro trabalham; o almoço vem depois. Obrigado.

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