terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O DUELO


Óscar Monteiro Torres foi o primeiro piloto português a ser abatido em combate. Aconteceu em 1917 quando combatia os alemães integrado no CEP mas prestando serviço numa esquadrilha de voo francesa.
Durante muito tempo foi dito que ele teria sido o primeiro e único piloto a morrer em combate, mas hoje sabemos que não foi assim. Foi o primeiro, mas não o único: José Oulman, nascido e criado em Lisboa, morreu aos comandos de um Spitfire da RAF quando perseguia um comboio militar alemão já perto do final da II Grande Guerra. Estava também integrado numa esquadrilha francesa.
Antes de se tornar piloto, Óscar Monteiro Torres frequentou o Colégio Militar, onde terá tido uma passagem algo turbulenta, e depois tornou-se Oficial de Cavalaria. Era maçon e republicano convicto, o que lhe granjeou alguns inimigos entre os "filhos" da Monarquia recentemente deposta.
Defendeu entusiasticamente a participação de Portugal na I Grande Guerra apesar do estado calamitoso em que se encontravam as finanças da I República. Foi nesse propósito contrariado por um ex-militar um pouco mais velho, Cristóvão Aires, monárquico, professor do Colégio Militar, jornalista e historiador, que se opunha ferozmente ao envolvimento do país nessa louca aventura. Tinha razão.
"Pegaram-se" nos jornais, como era uso e costume na época. Seguiram-se ofensas e insultos mais ou menos velados. Em consequência, a coisa descambou. Só se resolvia com um duelo à espada, "desporto" perigoso então muito em voga entre as classes altas da Europa civilizada.
Escolheram-se os padrinhos, a hora e o local. Ficou tudo marcado para 16 de Junho de 1915 na estrada da Ameixoeira. A arma escolhida foi o sabre, que ambos os contendores conheciam da sua formação militar. O duelo seria realizado em vários "assaltos" e só terminaria "com sangue" atestado pelos dois médicos presentes.
Ao sétimo assalto Monteiro Torres feriu Cristóvão Aires num antebraço. Seis centímetros de corte e um pouco de sangue vermelho a jorrar, para decepção dos espectadores presentes que sempre acreditaram que os monárquicos tinham sangue azul.
Não fizeram as pazes mas a questão foi arquivada.
Fotos: O SPAD em que Monteiro Torres morreu, o duelo da Ameixoeira e o regresso das cinzas a Portugal, no final da Guerra

Por: Comt. José Correia Guedes "Aviador"

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