terça-feira, 5 de novembro de 2019

A RAINHA GINGA


ANA DE SOUSA NZINGHA MBANDE – 1583 / 1663
ANGOLA
Ginga, uma Rainha inteligente e indomável do povo de Matamba, nascida em Cabassa, que conseguiu juntar vários povos na luta contra os invasores portugueses, e resistiu até ao fim sem nunca ter sido capturada tornando-se conhecida pela sua coragem e argúcia. 
Do grupo étnico Mbundu, era filha do rei dos Mbundus no território Ndongo, hoje Angola. 
Encaminhada para Luanda a conselho do seu meio-irmão e rei Ngola Mbandi para negociar com os portugueses, foi recebida pelo governador-geral e pediu a devolução de territórios em troca da sua conversão política ao cristianismo, recebendo o nome de D. Anna de Sousa. 
Porém, os portugueses não respeitaram o tratado de paz, e criaram uma situação de desordem no reino de Ngola. 
Então, a enérgica guerreira, diante da gravidade da situação e da hesitação de seu irmão, manda envenená-lo, tomando o poder e o comando da resistência à ocupação das terras de Ngola e Matamba. 
Não conseguindo a paz com os portugueses em troca de seu reconhecimento como Rainha de Matamba, renegou a fé católica, aliou-se aos guerreiros jagas de Oeste e fundou o modelo de resistência e de guerra que constituía o quilombo. 
Com a sua política ardilosa, conseguiu formar uma poderosa coligação com os estados da Matamba, Ndongo, Congo, Kassanje, Dembos e Kissama, e comandou a resistência à ocupação colonial e ao tráfico de escravos no seu reino por cerca de quarenta anos, usando tácticas de guerrilhas e de ataques aos fortes portugueses, incluindo pagamentos com escravos e troca de reféns. 
Após a assinatura de um tratado em 1656 com o governador-geral, que incluiu a libertação de sua irmã Cambu, então convertida como Dona Bárbara e retida em Luanda por cerca de dez anos pelos portugueses, e com a sua renúncia aos territórios de Ngola, surgiu uma paz relativa no reino de Matamba até à sua morte, aos 82 anos. Sucedeu-lhe Cambu, continuadora da memória de sua irmã, mas já com declínio da Coligação. 
Dois anos mais tarde, o Rei do Congo empenhou todas as forças para retomar a Ilha de Luanda, ocupada por Correia de Sá, saindo derrotado e perdendo a independência, tendo o Reino Ndongo a ser submetido na Coroa Portuguesa (1771). 
A Rainha quilombola de Matamba tornou-se mítica e foi uma das mulheres e heroínas africanas cuja memória desafiou o tempo, dando origem a um imaginário cultural que invadiu o folclore brasileiro com o nome de Ginga e despertou o interesse dos iluministas como no romance Zingha, reine d´Angleterre, histoire africaine (1769), do escritor francês de Toulouse. Jean Louis Castilhon, inspirado nos seus feitos, foi citada no livro “Histoire de l´Afrique” da publicação Histoire Universelle (1765-1766). 
Ainda hoje é reverenciada como exemplo de heroína angolana pelos modernos movimentos nacionalistas de Angola. A sua vida tem despertado um crescente interesse dos historiadores, antropólogos, e outros estudiosos do período do tráfico de escravos. 
A sua resistência à ocupação dos portugueses no território angolano e o consequente tráfico de escravos, tem sido motivo de intensos estudos para a compreensão de seu momento histórico, caracterizado pela sua habilidade política e espírito de liderança na defesa de sua nação. 
 Também é conhecida como Jinga, Zhinga, Rainha Dona Ana e Rainha Zinga



Vitor Oliveira

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