terça-feira, 15 de outubro de 2019

CALHETA DE SÃO MARTINHO


Neste Dia Mundial dos Correios (09 de Outubro) proponho uma viagem a um recanto que, aparentemente, nada tem de especial. Vamos até a Calheta de São Martinho, uma pequena enseada a escassos quilómetros da Cidade da Praia. Vamos ao encontro de ruínas de um passado auspicioso, no tempo em que os correios prosperavam.

São Martinho é um povoado que fica exactamente a meio caminho entre Praia e Cidade Velha. A comunidade, constituída por dois aglomerados, situa-se, aliás, exactamente na fronteira entre os dois municípios. Aliás, até tem sido alvo de disputa entre ambos. Mas, isso são contas para outro rosário. Nós estamos apenas de passagem por São Martinho, nosso destino é lá em baixo, no litoral, até alcançarmos uma pequenina baía.

Ao se passar por São Martinho, na estrada asfaltada que nos leva ao berço da cabo-verdianidade, avançamos um pouco mais e depois fazemos um desvio para esquerda, e tomamos uma via de terra batida. Por entre solavancos, vamos descendo até alcançar a Calheta de São Martinho, uma pequenina baía, a partida sem grandes atractivos para a vista de quem lá chega.

Mas, para lá do aparente, Calheta de São Martinho exibe os vestígios de um passado glorioso: a baía chegou a albergar uma base para hidroaviões, da Aéropostale, uma companhia de aviação francesa, fundada em 1919. A companhia tinha hidroaviões que cruzavam o Atlântico, ligando Europa, África e América e um dos pontos de escala era a costa de Santiago, na Calheta de São Martinho. Tudo isto em plenos anos 20 e 30 do século passado. Documentos históricos revelam que correspondências eram transportadas em hidroaviões desde Toulouse, em França, com escala em Saint Louis, Senegal, e chegava à Calheta de S. Martinho, Cabo Verde, onde era colocado a bordo de um antigo barco militar francês rumo a Recife, no Brasil.

Com um lugar especial nos anais da história, hoje Calheta de São Martinho está lá discreto, dormitando. O sono só não pesa porque há lá uns vestígios que vão falando por si, impedindo o lugar de entrar num sono mais profundo. Parte da hidrobase ainda é bem visível exactamente no centro da baía e vai dividindo o espaço com alguns botes pertencentes a pescadores da comunidade de São Martinho.

Neste dia Mundial dos Correios, sabe bem uma viagem pelo passado glorioso da Calheta de São Martinho. Nos primeiros anos da década de 2000, Os Correios de Cabo Verde lançaram uma série de quatro selos alusivos ao 75º aniversário da hidrobase da Calheta de São Martinho. Quem sabe, por altura dos 100 anos, venham mais.

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