terça-feira, 30 de julho de 2019

“ZÉ DO TELHADO”



Eis parte de um diário que ainda retenho, desde as viagens que realizei por terras africanas em 1972/73, era eu um jovem militar com 23 anos.
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Para se percorrerem os locais mais apelativos de Angola temos que vaguear constantemente e, neste profundo e vasto território, assim aconteceu comigo por diversas ocasiões! 
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CAMILO E ZÉ DO TELHADO
Retornei ao cruzamento de Malanje e enveredei pela estrada que seguia para Henrique de Carvalho. Deparei-me com as povoações de Cambondo, Catala, Caculana e, por fim, Mucari. Junto à última localidade, procurei saber onde se situava a velha aldeia de Xissa, essa aldeia onde se encontra sepultado o conhecido “Zé do Telhado”.
Estando em Angola, eu não abandonaria este país sem prestar homenagem ao homem que intitulávamos de “Robin dos Bosques português”. Curiosamente, soube mais pormenores acerca da sua evasão e desterro para terras das Lundas, para além das suas conhecidas aventuras na Metrópole. Resumo tudo à maneira contada pelo meu narrador… (Um ancião das terras da Rainha Ginga!...) 
Celebrizado pela sua audácia enquanto salteador, Zé do Telhado foi um valoroso combatente militar cujos créditos foram reconhecidos. Enquanto militar, lutando pelos liberais contra os absolutistas, subsistem diversos registos e relatos da sua valentia, tendo recebido a medalha de Torre e Espada, por actos heróicos nas hostes de Sá da Bandeira, do Duque de Setúbal e na revolta da Maria da Fonte.
José Teixeira da Silva, o famoso Zé do Telhado, terá nascido a 22 de Junho de 1818 no lugar do Telhado (de onde origina o seu nome popular), aldeia de Castelões de Recesinhos, na comarca de Penafiel. Reza a lenda que era filho de um chefe de uma quadrilha de ladrões e de uma família cuja principal actividade era extorquir o alheio. De facto, quer o seu tio-avô, quer o seu pai haviam sido quadrilheiros, tal como o seu irmão mais velho.
Casado com a sua prima Ana Lentina de Campos (a boda celebrou-se a 3 de Fevereiro de 1845), Zé do Telhado entrega-se à vida militar de corpo e alma, sendo condecorado pela sua bravura. Após algum tempo, regressa para o seio da família, uma transição que contou com diversos obstáculos, nomeadamente, o facto de ter dívidas pelo não pagamento de impostos, acabando por ser expulso das Forças Armadas. Sem conseguir arranjar trabalho, restou a Zé do Telhado transformar-se no mais famoso bandoleiro de Portugal.
Com as autoridades no seu encalço por todo o País, Zé do Telhado resolveu fugir para o Brasil, escondeu-se na barca “Oliveira”, acostada no Porto. Ali estava à guarda de Ana Vitória, uma mulher que fora sua vítima mas que se tornara sua admiradora. Cabe-lhe a ela a frase lapidar que o transformou no Robin dos Bosques português ao dizer: “existem pessoas de bem que nunca deram às classes humildes um centésimo do que lhes deu Zé do Telhado.”
Viria a ser capturado pelas autoridades e preso na Cadeia da Relação, no Porto, onde conheceu o escritor Camilo Castelo Branco.
O seu julgamento teve início a 25 de Abril de 1859, com acusação pública em 9 de Dezembro do mesmo ano. Foi condenado na pena de trabalhos públicos por toda a vida, na costa ocidental de África e no pagamento das custas. Esta pena foi comutada pelo Tribunal da Relação do Porto em 15 anos de degredo para África, sendo publicada em Setembro de 1863.
Já em Malanje, tornou-se negociante de borracha, cera e marfim e casou com uma local, de nome Conceição, com quem veio a ter três filhos. Era conhecido entre os angolanos como o “quimuêzo”, ou seja, o homem de barbas grandes, já que as deixara crescer desde que chegara a África.
Zé do Telhado morreria de varíola em Angola em 1875, com 57 anos, sendo sepultado na aldeia de Xissa. Ainda hoje são feitas romagens à sua campa e surge na boca dos anciãos como figura mítica e protectora dos mais desfavorecidos.


Por:
Vitor Oliveira

1 comentário:

  1. "...por actos heróicos nas hostes de Sá da Bandeira, do Duque de Setúbal e na revolta da Maria da Fonte" ??????. Não será o Duque de Saldanha e não o de Setúbal?

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