quarta-feira, 21 de junho de 2017

ANTÓNIO DE SOUSA MAYA

Nasceu no Porto em Outubro de 1888, cursou o colégio Militar, aos dez anos com o nº. 186. 
Alistou-se como voluntário no Regimento de Cavalaria N.º 4, tendo sido incorporado no dia 29 de Outubro de 1905 e concluído o Curso de Cavalaria da Escola do Exército com uma classificação final de 13,9 valores.
Exercia as funções de ajudante de campo, do Ministro da Guerra General Norton de Matos, quando concorreu à Aviação Militar em Agosto de 1915, sendo dos pioneiros que seguiu para Inglaterra. 
No dia 2 de Fevereiro de 1916 embarcou para a Grã-Bretanha e Irlanda para iniciar a 7 de Março a instrução de piloto aviador na Escola de Aviação Civil «Ruffy & Baumamann», completando o seu curso a 3 de Junho de 1916, sendo-lhe conferido o respectivo «brevet» pela F.A.I. Em seguida frequentou a Royal Flying Corp School, alem dos aviões Caudron no qual se tinha iniciado, pilotou os Farman, Curtiss, Soppwitch e Martynsidetendo concluído a mesma a 7 de Junho de 1916 e prestado serviço na Frente Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial em missões de reconhecimento.

Entretanto em Vila Nova da Rainha abria a Escola de Aeronáutica Militar, o Tenente António Maya regressou a Portugal para exercer as funções desde instrutor do primeiro curso em Novembro de1916, terminado este e em virtude da organização do Corpo Expedicionário Português (CEP), António Maya ofereceu-se para combater em França integrado na Esquadrilha Inicial, Comandada pelo Capitão Norberto Guimarães, ingressou nas Escolas Militares de Avord e de seguida na de Pau. Tirou as especialidades de tiro aéreo em Cazaux e de voo noturno em Miramas ao Norte de Marselha. Desempenhou a seu pedido serviço na esquadrilha inglesa de observação (10º Esquadron) em Shoques perto de Béthune, em França, com variadíssimas missões de guerra. Apos estes estágios em Outubro de1917, deu entrada na Esquadrilha Spad Nº124 também conhecida por (Lafayette), que operava no Grupo franco-americano Nº13, com base em La Noblette. Voo em missões de guerra centenas de horas no espaço aéreo inimigo, foi galardoado com as Cruzes de Guerra portuguesas e francesas, e citações em Ordem de Campanha do Comando Aliado.
Foi entre outras condecorações agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis a 15 de Fevereiro de 1919, o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo a 29 de Março de 1919 e o grau de Comendador da Ordem Militar de Avis a 27 de Dezembro de 1927.
Foi ainda proposto pelo Ministro da Guerra, para o Grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, em 20 de Março de 1923, tendo no entanto sido esta proposta rejeitada, pelo Conselho da Ordem, em Maio de 1923.
Pioneiro da aviação em Portugal tendo atingido a patente de Brigadeiro-General no Exército Português.
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Há duas boinas características em Lisboa, a de Gago Coutinho e a de António Maya.
Ambas são inconfundíveis e cada uma tem forma própria. A do piloto António Maya ostenta a águia da aviação Polaca, pois é aviador honorário daquela nação.
Ao vê-los os lisboetas sabem muito bem quem eles são e têm sempre à sua passagem em comentário amigo e de admiração. Tornaram-se populares no admirável sentido do termo.
António Maya é hoje o piloto mais antigo da Aeronáutica Militar e quem o vê passar com aquele ar despreocupado que é timbre do homem do Ar não sabe em pormenor o que tem sido a sua intensa actividade de serviço aéreo desde aqueles tempos distantes em que em Inglaterra, com Óscar Monteiro Torres e Lello Portela, recebia instrução no Royal Flying Corps para obtenção do brevet de piloto aviador. Passava-se isto em 1916.
Logo no primeiro dia de instrução, numa daquelas manhãs cinzentas e Inglaterra, os pilotos portugueses receberam esta notícia: morreu hoje o melhor aluno da escola….
Belo começo, não haja dúvida.
Mas, o que podia causar apreensões a António Maya e aos seus companheiros?
Cavaleiro, instrutor de equitação do Colégio Militar, António Maya não se impressionou. A sua têmpera tantas vezes posta à prova era de “antes quebrar do que torcer”.
Cada um assinou um cheque em branco…..
E a instrução seguiu o seu curso. Primeiro na Escola Civil de Hendon, depois na Militar de Northolt.
Então para se conquistar o brevet exigiam-se provas em cinco aviões distintos, eram eles Caudron G.3, Farman, Avro, Curtiss e Be-C2.
Nesse dia antes de serem largados – primeiro António Maya – os três pilotos portugueses tomaram esta resolução: cada um assinou um cheque em branco para que pudesses levantar o dinheiro que tinham depositado….
Porém foi uma resolução em branco…
E com o seu diploma não mãos, António Maya, que valorosamente se distinguiu revelando altas qualidades de pilotagem, seguiu para França integrado numa esquadrilha inglesa em Dezembro de 1916.
Estávamos em plena guerra e os pilotos faziam muita falta. Rápida passagem pelas escolas de Aborde, Pau e Misamer para treino de alta acrobacia e voo noturno e ei-los depois em missões de guerra sulcando os céus de França sobre o território ocupado pelos alemães.
Vem daí a honrosa citação do Comando da 1ª Divisão Aérea do Exército Francês ao piloto aviador António Maya pela “bravura e entusiasmo revelados nas numerosas missões de patrulhamento sobre as linhas inimigas”.
Cruz de Guerra Francesa com Estrela de Prata
E daí também legitimo título de orgulho para um militar com é António Maya. O direito de usar a “Cruz de Guerra Francesa” com estrela de prata!
Eis uma passagem da sua valiosa ação como piloto de guerra que recordamos cheios de satisfação, como portugueses e amigos da aviação.
Depois de terminada a guerra o valoroso piloto regressou a Portugal.
Trabalhador infatigável foi o organizador e primeiro comandante do extinto Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República (GEAR), numa hora difícil para a segurança das instituições, e ali pôs à prova todo o seu carinho pela aviação e todo o seu poder de iniciativa.
Nessa altura o comandante António Maya era um símbolo, o das boas intenções, o da camaradagem, brio e valentia, qualidades admiráveis que soube manter sempre como timbre do seu carácter.
O seu nome encheu colunas dos jornais da época.


Nesse tempo, estava ainda na Amadora, deu o maior “estoiro” da sua vida de aviador.
Descolou num Breguet com o saudoso Rodrigues Alves. Aos comandos António Maya e o companheiro como metralhador. Tratava-se de um exercício de tiro sobre um alvo no mar, perto dos areais da Caparica. Levavam como alvo uma enorme manga com bocados de cortiça que, a dado momento, seria lançada para a água.
Pois foi nesse momento….
A manga envolveu-se no avião e prendeu os comandos. O aparelho incidiu sobre a outra banda a pleno motor, o pé esquerdo a fundo…E os comandos a nada cediam…E a terra crescia, avolumava-se espantosamente.
O avião descreveu uma volta completa de “costas” e foi estatelar-se com as rodas para o ar a uns 15 metros de distância do ponto de embate!
Momentos de confrangedor silêncio….
Até que sumidamente a voz de Rodrigues Alves, a medo, não fosse responder-lhe o silêncio eloquente de uma grande tragédia:
-Ó comandante….
Porém o comandante respondeu-lhe. Que alívio!
Acorreu gente e os aviadores, de cabeça para baixo, lá foram retirados do avião e levados para casa dum pescador, onde almoçaram.
O pescador tinha uma filha, rapariga bonita que assistira ao desastre e tinha no olhar espantado toda a horrível visão da tragédia eminente.
Falaram com ela os aviadores, mas nada….Ela não respondia, com aquele ar meio aparvalhado.
E só quando terminou o almoço e os aviadores trataram de vir para Lisboa é que a rapariga, timidamente, quase que implorando, lhes disse apenas isto:
- Não tornem a andar naquilo, não?
Aquilo era o avião, todo despedaçado e para o qual ela apontava, transida de pavor.
Recordamos uma outra passagem pouco conhecida da atividade aeronáutica de António Maya.



Com Lello Portela meteu ombros à organização em 1919 do raide Paris – Lisboa.
Adquiriram-se em França dois Breguet com maior raio de ação dos que os de série e durante algum tempo os dois aviadores com os mecânicos Gouveia e Sousa executaram vários voos de treino tendo Paris como ponto de partida. Foram a Bordéus, Bruxelas e Haia. Aproveitando a realização dum certame aeronáutico em Haia tomaram parte num circuito que foi ganho por Fonk.
Na prova de treino Paris – Bruxelas António Maya estabeleceu o tempo recorde para a época de 1 hora e 38 minutos. Naquela época a mesma distância era percorrida em 2 horas.
O raide direto Paris – Lisboa foi inutilizado em consequência de duas avarias, uma em Casaux e outra próximo de Ávila.

Da Amadora o comandante António Maya transitou para Tancos. Durante muitos anos comandou o Grupo de Proteção e Combate. Depois foi colocado na Direção da Aeronáutica Militar como Inspetor e desempenhou interinamente as funções de Director.

Chamado para a frequência do Instituto de Altos Estudos Militares, concluiu com elevada classificação o curso de oficial general.

Hoje é o Brigadeiro Piloto Aviador António Maya.


In Revista do Ar por António Rosa (1946)

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