Situadas na margem esquerda do rio Sado, na face noroeste da península de Troia, em frente a Setúbal.
As ruínas romanas de Tróia são testemunho de um grande complexo de salgas de peixe construído na primeira metade do século I e continuadamente ocupado até ao século VI. As estruturas mais características de Tróia são as muitas oficinas de salga de peixe. Além destas, as ruínas abrangem ainda um núcleo habitacional com casas de rés-do-chão e primeiro andar (as chamadas "Casas da Princesa"), várias necrópoles, um columbário, termas, uma roda de água (rota aquaria) e os restos de uma basílica paleocristã.
Aproveitando a riqueza do peixe do Atlântico e a excepcional produção de sal das margens do rio Sado, fabricava-se peixe salgado e molhos de peixe, entre os quais o famoso garum, que eram embalados em ânforas e levados de barco para Roma e outras províncias do Império Romano. Implantado hoje numa língua de areia que na época romana seria ainda uma ilha, talvez a ilha de Ácala referida pelo escritor latino Avieno, do século IV, na sua obra “Orla Marítima”.
O povoado era banhado directamente pelo oceano e fazia parte do território da cidade de Salácia (actual Alcácer do Sal).
As ânforas utilizadas como envase eram provenientes de olarias situadas na margem direita do rio Sado, como Abul, antiga feitoria fenícia.
Tróia, a “Pompeia de Setúbal”, conforme foi referida por Hans Christian Andersen, foi pensada à escala do Império e foi o maior centro de produção de salga de peixe do mundo romano
Cetária é o nome do tanque de forma rectangular de dimensão variável, destinado à salga e fabrico de diversos molhos e outros preparados de peixe, na época romana. O condimento mais conhecido aí fabricado era o garum, que era utilizado como condimento em quase todos os pratos. O garum ou liquamen era um género de condimento muito utilizado na Antiguidade, especialmente na Roma Antiga. Era feito de sangue, vísceras e de outras partes seleccionadas do atum ou da cavala misturadas com peixes pequenos, crustáceos e moluscos esmagados; tudo isto era deixado em salmoura e ao sol durante cerca de dois meses ou então aquecido artificialmente. Este produto era exportado para várias partes do Mediterrâneo.
OFICINAS
As oficinas de salga de peixe de Tróia são compartimentos com tanques à volta de um pátio. O maior complexo fabril a descoberto integrava, nos séculos I e II, duas oficinas interligadas e um armazém, não se conhecendo ainda todas as suas dependências.
Até à data, foram identificadas vinte e cinco oficinas de dimensões muito variadas. A maior tinha 1106 m2 e os seus dezanove tanques já escavados tinham uma capacidade de produção de cerca de 465 m3. A mais pequena oficina completa a descoberto tinha apenas 135 m2 e os seus nove tanques tinham uma capacidade de produção de cerca de 103 m3.
TERMAS
As termas postas a descoberto em Tróia em 1956, estão encostadas à maior oficina de salga e ocupam uma área com cerca de 450 m2. Eram abastecidas por água de um poço que era conduzida por um pequeno aqueduto a um reservatório de água de onde era distribuída para os tanques. As termas têm uma zona quente (caldarium) com um sistema de aquecimento subterrâneo e pequenos tanques para banhos de vapor e de água quente, uma sala de transição com temperatura morna (tepidarium), uma zona fria (frigidarium) com dois pequenos tanques para banhos de água fria e ainda um vestiário (apodyterium) e uma sala de entrada para convívio e exercício físico (palaestra). Destinavam-se a facultar o banho diário a todos os que trabalhavam na fábrica e poderiam estar abertas a outras pessoas que pagassem entrada.
NECRÓPOLES
A grande diversidade de sepulturas nas quais os habitantes de Tróia enterraram os seus mortos é um reflexo da continuidade da ocupação do sítio ao longo de vários séculos. Revela ainda um intenso contacto com o exterior que lhes foi permitindo adoptar os novos usos e costumes que se iam propagando pelo Império.
Existiram pelo menos 4 necrópoles na Tróia romana e um mausoléu: a necrópole da Caldeira, escavada nas décadas de 40 e 50 do século XX, datável do século I ao século V; a necrópole da basílica que datará dos séculos IV-V; a necrópole das sepulturas de mesa, a sudoeste da basílica, que poderá ser a continuação da necrópole desse complexo e a necrópole do mausoléu, que preencheu o interior deste edifício e se prolongou para o seu exterior provavelmente no século V.
Existiram pelo menos 4 necrópoles na Tróia romana e um mausoléu: a necrópole da Caldeira, escavada nas décadas de 40 e 50 do século XX, datável do século I ao século V; a necrópole da basílica que datará dos séculos IV-V; a necrópole das sepulturas de mesa, a sudoeste da basílica, que poderá ser a continuação da necrópole desse complexo e a necrópole do mausoléu, que preencheu o interior deste edifício e se prolongou para o seu exterior provavelmente no século V.
RUA DA PRINCESA
Nos séculos XVIII e XIX foi posto a descoberto uma área residencial com edifícios alinhados que ficou conhecida como Rua da Princesa por causa dos trabalhos que aqui mandou fazer a Infanta D. Maria Francisca, futura Rainha D. Maria I. Segundo a mais recente interpretação, estas construções pertenciam a uma grande casa com rés-do-chão e primeiro andar que à data da escavação ainda tinha restos de pavimentos em mosaico e pintura mural.
MAUSOLÉU
O mausoléu foi construído junto a uma oficina de salga, sobre um armazém de ânforas da primeira fase de produção de salgas, e pensa-se que seja dos inícios do século III.
É um edifício rectangular com paredes com fiadas de pedras entremeadas com fiadas de tijolos, e contrafortes no exterior das paredes laterais. No interior, as paredes tinham nichos para colocar potes com as cinzas de defuntos, segundo a prática tradicional romana da cremação. No entanto, neste edifício funerário a cremação conviveu com a inumação, visto que o seu interior foi preenchido com sepulturas de vários tipos, destacando-se algumas grandes arcas sepulcrais bastante elaboradas, feitas com tijolos e cobertura de argamassa.
BASÍLICA
Um dos monumentos mais bem conservados do sítio arqueológico de Tróia é a Basílica paleocristã, uma igreja construída em finais do século IV ou inícios do século V.
Era um edifício de grande dimensão com três arcadas dividindo o espaço em quatro naves transversais. As suas altas paredes estão profusamente pintadas com motivos geométricos e vegetais, bem como imitação de mármore. Um crísmon desaparecido, símbolo cristão da época de Constantino, foi registado no topo de uma parede, identificando este edifício como cristão. Um cântaro pintado num pilar é outro dos temas muito utilizado pelas comunidades cristãs mais antigas. A Basílica foi construída sobre uma oficina de salga abandonada, que fora transformada em cemitério.
- Columbário é um lugar, geralmente num cemitério, em que são depositadas as urnas contendo as cinzas
dos mortos depois da cremação dos cadáveres
- Paleocristã - A Arte paleocristã ou Arte cristã primitiva é a arte, arquitetura, pintura e escultura produzida por cristãos ou sob o patrocínio cristão desde o início do século II até o final do século V. Não há arte cristã sobrevivente do século I. Após aproximadamente o final do século V a arte cristã mostra o início do estilo artístico bizantino.
- Apoditério (em latim apodyterium) era, nas termas romanas, a entrada principal, constituída por um quarto comprido ou largo, dotado de compartimentos ou estantes, nos quais os cidadãos guardavam suas roupas e pertences, enquanto tomavam seu banho.
- Cetóbriga foi uma povoação de origem celta, seguidamente romanizada, implantada no local onde hoje se situa a cidade de Setúbal. É referida por Ptolomeu como cidade celta. Está situada numa das vias que ligava Lisboa a Mérida.
- ABUL – Foi uma povoação Fenícia fundada em meados do século VII A.C. e abandonada no início do século VI A.C., situada na margem direita do rio Sado, na Herdade do Monte Novo de Palma, no município de Alcácer do Sal, a cerca de 40 quilómetros de Setúbal. Depois, tornou-se local de fabrico com olarias romanas que funcionaram desde o século I D.C. a meados do século III D.C.
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