domingo, 11 de abril de 2010

ÁFRICA NA MONARQUIA

A Expedição AGUIAR

Mais de um século passou em Outubro de 2007 sobre a ocupação do Cuamato, primeira acção em força para o domínio efectivo do Sul de Angola. E como se torna civicamente salutar e fecundo robustecer o sentimento de orgulho nacional com a evocação das melhores glórias pátrias, nunca é de mais rememorar-se de tempos a tempos, mesmo em breves e concisos resumos, o que foi essa árdua empresa das Campanhas de ocupação da imensa terra angolana.Vinha de longe, como se sabe, a lenta penetração portuguesa nas ignotas paragens do Sul, de que até aos meados do século XIX apenas se sabia da existência dum rio Cunene e duma vaga região chamada Humbe. A própria costa angolana, ao Sul de Benguela, ainda em 1840 era mal conhecida. Exploradas desde então por missões navais as baías de Moçâmedes e dos Tigres, o Porto Pinda e na extrema fronteiriça com a Damaralândia a foz do Cunene, iniciava-se anos depois, em 1856, a penetração pelo deserto até ao planalto do Huíla. Os Gambos e o Humbe, na margem do Cunene, eram ocupados em 1859.A soberania portuguesa ia já até às fronteiras das grandes populações cuamatas e cuanhamas. E desde logo se punha aos Governos da Metrópole a chamada «questão do Sul e Angola», suscitada pela feroz resistência que à soberania portuguesa ofereciam essas belicosas tribos do Ovampo de que as mais temíveis em território nacional eram os Cuanhamas, os Cuamatos e mesmo os Evales.
As resoluções cominatórias(sanções ameaçadores) do famoso Congresso de Berlim (1885) coagiram por essa época o Governo português a encarar seriamente o problema de ocupação do Sul de Angola para garantir os seus proclamados direitos históricos de prioridade.E de facto, logo em 1885 e 1886, a brilhante actuação do Capitão Artur de Paiva, coadjuvada pela acção dum velho colono da Huíla, Pedro Chaves, instalava o domínio português naquelas remotas paragens com ocupação de Cassinga, do Humbe e do Cubango.Em 1890 a ocupação do Bié e os sucessivos rechaçamentos das invasões hotentotes por Quintino Rogado, induziram Artur de Paiva a reclamar insistentemente da Metrópole a ocupação militar do Cuanhama, principal foco de resistência ao domínio português, para o que chegou a apresentar um plano de campanha. Em verdade era ali endémica a rebelião dos povos indígenas. Permanente estado de guerra intertribal com as razias periódicas, roubos de gago, incêndios de libatas pelos povos do Mulondo, dos Gambos, dos Quipungos, do Jau e da Chela, tornavam o nosso domínio ao Sul de Benguela inteiramente precário, quase irrisório. Em 91 o Humbe revoltava-se.
Os Cuamatos inutilizavam todas as tentativas do major Padrel para se restabelecer ali a soberania. Por seu turno os Cuanhamas prosseguiam impunemente as suas insolentes razias aos pacíficos povos limítrofes. Era total a insegurança e tornavam-se alarmantes os vexames infligidos naquelas paragens à bandeira nacional.Em vão instavam com a Metrópole os sucessivos governadores da Província pela urgente ocupação e sujeição de Cuanhamas e Cuamatos.
A Metrópole, porém, assoberbada ainda com a outra Costa, não podia, por carência financeira, acudir ao mesmo tempo aos problemas urgentes do Sul de Angola.Em 1898 a situação subitamente agravara-se, com a nova revolta da gente do Humbe e o massacre do pelotão de dragões do Conde de Almoster. Seguros da impunidade, Cuanhamas e Cuamatos redobravam de insolência e audácia nas suas razias assoladoras.Urgia uma acção enérgica, para impor uma autoridade efectiva em territórios tão cobiçados pelos poderosos vizinhos alemães da Damaralândia.

Em 1902 o Governo da Metrópole, já mais desafogado dos problemas de Moçambique, decidiu-se enfim a operar com uma expedição em força no Sul de Angola, para o que incumbiu o novo governador de Moçâmedes, capitão de engenharia João M. de Aguiar, de fazer um reconhecimento dos territórios e elaborar um plano de campanha. E em 1904 deu-se começo à campanha, que se desenvolveu em breves dias de Setembro.Era o primeiro passo decisivo para a ocupação sistemática do Sul de Angola; e embora tenha redundado num total desastre, bem merece a memória dos oficiais e soldados, que nela perderam honrosamente a vida, a evocação dessas horas trágicas e das circunstâncias em que tombaram, combatendo como soldados, e como soldados dando a sua vida e o seu sangue pelo engrandecimento da Pátria.Era então o Humbe, à beira do Cunene, na margem direita, o ponto mais avançado do domínio português.Ali se concentrou na primeira semana de Setembro a coluna expedicionária, num total de 2000 homens, europeus e indígenas, de todas as armas, sob comando do próprio governador do Distrito, capitão de engenharia João M. de Aguiar.A coluna tinha um objectivo – a tomada da Ngiva, sede do sobado do Cuanhama, depois de submetido o Cuamato, passagem forçada para a Ngiva, mais a Leste.Iniciado, em 19, o avanço até Vau de Pembe, pela picada que o capitão Gomes da Costa, comandante dos auxiliares, fizera entretanto abrir, as tropas da coluna chegaram ao Cunene às 9 da manhãLogo que as forças começaram a travessia do rio, para a margem esquerda, larguíssimo nessa região, ouviu-se o primeiro tiroteio do gentio, e Gomes da Costa realizava com os seus auxiliares um reconhecimento ofensivo que dizimava e repelia as avançadas dos Cumatos, entricheirados numa eminência paralela ao rio.

PRIMEIRA CAMPANHA DO CUAMATO
A travessia do Cunene pelo grosso da coluna continuava demoradamente, dificultada, pelos Cuamatos que ao cair da tarde voltaram a fazer intenso tiroteio.Só ao alvorecer da manhã seguinte o resto da coluina pôde acabar de transpor o rio; e logo às 8 horas o inimigo surgiu à orla dum bosque a fuzilar, invisível, as nossas tropas acampadas. Repelido ainda pelos auxiliares de Gomes da Costa, voltava pouco depois, a surgir no outro flanco, donde foi novamente rechaçado. Era um fatigante esforço. No dia 21 repetiam-se os ataques do gentio, e todo o dia o quadrado português esteve debaixo de fogo do inimigo.
Os Cuamatos faziam fogo, embuscados no denso arvoredo e esquivando-se sempre a combates corpo-a-corpo. Os alarmes sucediam-se, enervando as tropas.Em 22, o comandante da coluna ordenou para o dia seguinte uma sortida em força. Sob o comando de Gomes da Costa, para desafrontar o bivaque e preparar e preparar uma abertura no mato alto, por onde a coluna pudesse internar-se em território inimigo.
Na manhã de 23, ás 7 horas, saía o forte destacamento de um pelotão a cavalo, outro pelotão de infantaria europeia e mais quatro pelotões indígenas com uma peça de marinha. Ia em coluna dupla, que logo foi disposta em linhas de atiradores, dada a natureza do terreno, muito arborizado e coberto de mato alto. Reiterados ataques do gentio m massa, repelidos todos, dificultavam cada vez mais a progressão, que a certa altura teve de ser suspensa, para não se afastar excessivamente
o destacamento do grosso da coluna, correndo o risco de envolvimento total e duma inevitável chacina.


Ao cabo de seis horas de penosa marcha, o destacamento Gomes da Costa descaía sobre a margem do rio e recolhia ao quadrado. Durante dois dias deixou o gentio de incomodar a coluna. E em vista da aparente acalmia, o comando da coluna resolveu proceder a novo reconhecimento ofensivo, mais forte, para abrir caminho.Esse foi o grande erro do comando, por enfraquecer a coluna e se arriscar a ser batido em fracções separadas, em vez de a empregar em força, com prudência e decisão, numa acção fulminante em que pudesse servir-se de todo o seu potencial de fogo, do arrojo e valor das suas tropas e das circunstâncias que se lhe oferecessem favoráveis.
Um destacamento de cerca de 500 soldados europeus e indígenas, com duas peças de marinha, sob o comando do capitão de artilharia Pinto de Almeida, saiu do quadrado às 6 da manhã de 25. A pouco menos de uma légua de margem de rio, foi envolvido por forças esmagadoramente superiores, milhares de negros bem armados, que tornavam impossível a retirada. Tiveram de lutar as nossas tropas desesperadamente na proporção de 1 para 20. A breve trecho as munições esgotaram-se; as baixas tornavam-se alarmantes. Cavalaria e os auxiliares carregavam em furiosos mas impotentes arrancos. Era o «salve-se quem puder», o desatre completo

No quadrado à beira do rio, ouvia-se distintamento o fragor do combate, na convicção de se tratar do desenvolvimento regular duma acção ofensiva. Só quase no final, por um clarim que apareceu no quadrado ao galope a dizer o que se passava, se começou a entrever o desastre. Foi então resolvida flagelar com fogo de artilharia a fúria do gentio, para cobrir uma retirada possível.
Mas o tiro, mal regulado, ia produzir maior confusão por atingir os restos do destacamento, que se tentava reagrupar para retirar debaixo de fogo. Era o golpe de mesericórdia, infligido pelas nossas próprias armas.O combate durara pouco mais de uma hora e nele baquearam o próprio comandante do destacamento e mais 15 oficiais, 110 praças europeias e 150 indígenas. Apenas 3 oficiais sobreviveram ao massacre, e os estropiados que, na debandada puderam recolher ao quadrado traziam 26 europeus e 24 soldados indígenas feridos.Assim reduzida e profundamente abalada no seu moral, a coluna não podia cumprir a sua missão nem sustentar-se sequer nas suas posições.


Ao meio-dia de 25 foi resolvido recolher ao Humbe, na outra margem, donde entretanto fora mandado vir uma companhia negra de landins, que ali ficara em reserva e apoio. Da cobertura da retirada foi encarregado o capitão Gomes da Costa, sob cuja serenidade imperturbável se começou a passagem do rio, que durou até ao cair da tarde, e fez-se a marcha de duas léguas do vau do Pembe até ao Humbe.
Cerca de 270 portugueses, reinóis e indígenas, deixaram nas profundezas do mato hostil os seus corpos mutilados e as suas ossadas, a balizarem com o seu heróico sacrifício os caminhos que, mais tarde, outras tropas portuguesas deveriam palmilhar, para vingarem, com a honra da bandeira, o generoso sangue vertido

LÍNGUAS DE ANGOLA

A-Raiz Bantu ( de 1 a 9)
  • 1-Kicongo
  • 2-Kinbundo
  • 3-Luna-Tchokué
  • 4-Umbundo
  • 5-Ganguela
  • 6-Nhaheca-Humbe
  • 7-Ambó
  • 8-Herero
  • 9-Xindonga
B- Raiz não Bantu

10-Hotentotes- Bosquímanos Mukuankalas
11-Mupa,Kuenes e Kudos
10-Hotentotes,Koisan
11-Wátuas,Kwepes,Kuisses
12-Kurocas

Por: Aníbal de Oliveira

1 comentário:

  1. Gostaríamos no entretanto, segundo o que se pesquisou saber quem foram os protagonistas (régulos de Onalueque e Omungu) do lado Cuamatos na altura.

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